terça-feira, abril 08, 2008

Sebastião da Graça

Sebastião da Graça morreu...
E com ele morrerá o matrafão, por ele criado, pouco menos de 2 anos após o começo de aquilo que começou por ser uma partilha de ideias, de pensamentos, de emoções, de um dia-a-dia de uma vida comum que de repente se transformou num espelho para a alma de um pobre de espírito, vista tantas vezes de forma exageradamente romanceada.
Quem era afinal Sebastião da Graça? Um romântico estúpido, desses que muitos dizem já haver poucos, que acreditava em muito do que não era real, que se deixava encantar por tudo aquilo que amava, se apaixonava, mas para o qual percebeu pela desilusão constante e dolorosa que vivia numa utopia, num mundo em que nada disto faz já sentido, em que o sentimento pouco vale, é menosprezado e assim se deixou caminhar para uma miséria perpétua, na qual irá habitar.

Percebi, após estes 2 anos, que tudo aquilo que aqui escrevia não eram mais que devaneios, daquelas que são as minhas lutas interiores entre dúvidas persistentes que nem sempre se encontram num equilíbrio desejado, mostrando que a minha alma se encontra tão negra como o fundo deste blog, onde já nem as palavras no seu branco de esperança se realçam...
Decidi "morrer", porque deixei de acreditar em mim, nas pessoas, perdi a fé na força do amor, das palavras, das coisas. Decidi "morrer", porque me cansei deste arrastar de vida, de lamentação contínua, de uma personagem viscosa e repetitiva, que sem saber usar as palavras julgava poder um dia tornar-se um verdadeiro escritor.

E assim é o fim, desta caminhada no matrafão, que permanecerá por aqui, como livro abandonado numa escura estante e o qual não se irá concluir jamais, deixadas em branco que ficam as suas últimas as páginas...

... FIM

Aut non tentaris, aut perfice

segunda-feira, abril 07, 2008

Molha

E a pensar que a Primavera tinha vindo para ficar, eis que ao sair do Hospital apanhei uma molha diluvial.
Só naquela do todo estiloso que se recusa a usar um guarda-chuva, assim se viu o resultado de tamanha e estúpida arrogância. O estilo foi literalmente por água abaixo, lavado que foi igualmente o espírito pela humildade que a perda de postura causou.

A chuva lava o orgulho do arrogante...

domingo, abril 06, 2008

Porquê?

Tantas vezes me pergunto, porque é que apareceste na minha vida, para depois perceber que não te posso ter... Tantas vezes me questionei sobre tudo isto, como seria, porventura bem melhor viver para sempre numa ignorância de ti, desconhecer o verdadeiro significado da palavra amor e assim continuar a viver nas ilusões que antes de ti e desde cedo criei.

Mas tudo aconteceu, naquilo que para mim parece ter sido agora como um sorridente sonho sobre a perfeição das coisas, das pessoas, da vida, com alguém que me compreendeu tão bem, mesmo melhor que eu próprio, que me conheceu inteiramente, que entrava nos meus pensamentos e os via com clareza, que dominava por completo as minhas emoções... E também por isso, estou disposto a deixar-me ir, continuar a viver como até ao momento em que continuavas para mim uma desconhecida, o fruto de uma paixoneta romântica dos tempos de estudante, lá bem longe e que já não recordava.
E as dúvidas do porquê, da razão porque me deste sequer a oportunidade de me expor tanto a ti, de nunca me teres calado sequer com um simples e sei que honesto "não sinto o mesmo por ti", ou um "ainda o amo", ficarão comigo para depois também elas partirem nessa forma de esquecimento que é a perda de afectos.
E um momento irei lamentar para sempre... Esse que nunca aconteceu e que tantas vezes imaginei, em que num beijo ardente te mostraria o tamanho inexplicável da minha paixão por ti, pela mulher que entrou abruptamente na minha vida e que abruptamente de lá saiu.

Porque és tão perfeita?

Fangio

Dou por mim frequentemente a tentar ser um Juan Manuel Fangio, a acelerar por essas estradas fora, feito louco irreconhecível, a arriscar a minha vida num acidente, que já por algumas vezes por pouco foi evitado. Os pequenos sustos desses momentos fazem-me diminuir por um breve período de tempo, para de imediato voltar a ser desumano, julgar-me superior a mim próprio, invencível e abusar a cada segundo da sorte, que um dia infortunadamente me pode abandonar.
Por isso tenho que ter maior prudência, respeitar a estrada, o carro, todas essas variáveis que por mais que queiramos, não conseguimos controlar, no estado de euforia psicótica de poderes que não se tem, mas que a todo o momento julgamos possuir.

O travão é o pedal do centro no veículo...

sábado, abril 05, 2008

Mar

Uma das coisas que mais sinto falta lá por terras de Viriato, é o mar... a água, o oceano pacífico, o poder desfrutar de uma tarde sentado na areia, a ler um bom livro, a aproveitar uma boa companhia.
Sinto saudade do azul da água, dessa sensação da areia que nos preenche os dedos, da brisa leve que nos sussurra ao ouvido, que nos vira a página do livro. Sinto falta de tudo isso. Sinto falta de ti.
Ao ver as pessoas a desfrutar do Sol, numa tarde de Verão, procurei-te, lembrei-te, imaginei-te comigo a olhar para lá do infinito, para lá do vasto oceano, num pedaço de vida em que só a felicidade é permitida.
Mas as ilusões são tantas, que depressa acordei, e após uma breve passagem pelos pontos obrigatórios de quem vai a Lisboa, parti, de volta a esse local que sem mar, sem água, sem ti, escolhi como meu e onde procuro também ser feliz.

"Quando sonho com mar ele tem..." a tua expressão.

5 estrelas

Era capaz de me habituar a esta vida de luxo! Durante dois dias senti-me parte da realeza, num hotel onde tudo está pensado para nos agradar, todos os pequenos pormenores, de uma lista imensa que seria tão difícil particularizar. Sentir-me um pacóvio que vê pela primeira vez a magia da cidade... E, sobretudo foi bom recordar bons velhos tempos, ver o luar sobre a Barra, viajar com Garret e as suas viagens na minha terra, recordar Coimbra, Lisboa, Ferreira, Serpa, Oeiras, Faro, Ovar, todos os esses locais por onde passei enquanto estudante e perceber que sou realmente míope em tudo e mesmo ao falhar o corte no Estoril, para o casino, para o hotel e ter que ir à entrada de Cascais fazer inversão da marcha, como se de uma inversão na vida se tratasse.

E assim foi o meu primeiro congresso, com estadia paga! Só houve prejuízo mesmo no casino, onde um investimento em tudo igual a um do passado, não resultou em ganho semelhantes, mas era o que seria de esperar em jogos em que sempre é a casa que ganha... E lá tive que recusar com muita tristeza uma generosa oferta de ir ver o Sporting a Alvalade, mas que por dificuldade de agenda não pude aceitar.
Mas se não fosse contra os meus princípios, contra tudo aquilo em que acredito, até seria capaz de me habituar a esta...

Vida de luxo

quinta-feira, abril 03, 2008

Prova de vida

Ainda há pessoas com coragem... Numa altura em que nalguns países surgiram novos debates sobre eutanásia, sobre um dito acabar com sofrimento de casos terminais, eis que surge uma pessoa, que assumiu o lema da vida, de se manter alegre até ao fim, num fim anunciado, mas que não o fez desistir de lutar pela sua felicidade e sobretudo pela felicidade dos que o vêem partir.
Falo-vos de Randy Pausch, um professor da Universidade de Carnegie Mellon nos Estados Unidos, que se encontra numa fase terminal de uma neoplasia pancreática e que mesmo assim teve a força e ânimo suficiente para leccionar pela sua última vez na Universidade onde dava aulas, com um tema que certamente sensibilizou todos pela sua carga emocional, "Really Achieving Your Childhood Dreams". E mais do que tudo isso está a cada dia que passa a dar uma grande lição de vida, a todos os que por uma ou outra razão abdicaram dela.


A vida vive-se até ao fim...

quarta-feira, abril 02, 2008

Reabriu

Pois é... Brincadeira de 1 de Abril! Para os que ficaram tristes por não ser um encerramento sério, podem mesmo levantar uma queixa crime contra mim, na 4ª vara da 1ª secção do tribunal cível do distrito judicial do concelho de Lisboa, se é que existe! Como poderia eu encerrar um espaço onde me faço ouvir, sobretudo para mim próprio, onde coloco um pouco do que diariamente escrevo.
Sei que na maior parte das vezes, a qualidade é tão baixa que mais valia nem "abrir a boca", ou melhor, não dar "corda aos dedos". Mas no silêncio dos meus pensamentos, que agora quase não partilho com ninguém, sobretudo contigo meu irmão que rapidamente ganhas raízes na Baviera, vejo-me diariamente com tanto para contar, com tanto para dizer, e é na escrita que encontro esse meu outro eu que tem paciência para me ouvir, que não se cansa das minhas estupidezes, que está sempre disponível para se sentar ao pé de mim e me fazer companhia.
Encontro-me por vezes nestes monólogos, que me aquecem, aconchegam, me fazem sentir útil a mim próprio, no egoísmo que guardo para dentro, num contraste de entrega lá fora, num mundo que diariamente nos quer, sem misericórdia, consumir cada vez mais.

E tanto que fica ainda assim por dizer, tanto que tenho escrito em papel, numa fase em para além de estudo, redescobri também a paixão que é deslizar uma pena sobre uma folha em branco, enchê-la de palavras soltas que rapidamente crescem e se tornam em frases adultas e completas. O prazer que dá ao ritmo de pensamentos nem sempre conexos acompanhar em escrita o que a mente vai criando. Escrever cartas sem um destinatário e guardá-las para quem sabe num passado futuro, as reler, e encontrar palavras de um Sebastião que era um louco, um idealista, um estúpido romântico que vivia uma cruel realidade com ilusões de querer ser diferente...

E assim continuarei, a expor pedaços de mim a quem estiver por aí, a mim, a ti meu irmão que sei que és o meu mais fiel "ouvinte" e a alguns outros, que por aqui passarão com maior ou menor frequência. Retalhos de uma vida descontínua, de momentos que por vezes demoram a ser revelados, mas que o silêncio que sempre fui sobre o que verdadeiramente sinto me fazem criar, neste espaço que me acompanha desde há 2 anos, nessa altura em que me passei definitivamente a partilhar na blogosfera.

Matrafão, a narrar desde 2006...

terça-feira, abril 01, 2008

Fechado

Informamos os nossos caríssimos voyeristas deste blog de conteúdo muito duvidoso, que por mandato judicial emitido pela 4ª vara da 1ª secção do tribunal civel do distrito judicial do concelho de Lisboa, este encerra no dia de hoje as suas portas... janelas, digo.
Procurai outro blog, que este por ser tão mau e pelo o autor ser um nabo, já era... Mas se a justiça é cega pode ser que um dia consiga voltar a colocar uns posts sem que ela veja, e que com a prescrição dos processos judicias ninguém me responsabilize criminalmente por o fazer.

Até um dia...

segunda-feira, março 31, 2008

Sebastian Bond

Bond, Sebastian Bond... Agent 007 and 2/3.

É com este ímpeto que irei este fim-de-semana ao Estoril. Não será uma missão ao "serviço de sua majestade", mas ao serviço da Medicina Interna e da associação portuguesa para os estudos do fígado (APEF).
Há uns dias o meu tutor convidou-me para ir a um congresso, na impossibilidade de ele próprio ir, por a esposa se encontrar um mês deslocada em Londres. Mas aproveitando a boa oferta, ainda mais quando é patrocinada por essa máfia da indústria farmacêutica, lá me deu esta oportunidade de uma formação extra em que acabei por descobri que não era no estrangeiro, para que juntando o útil ao agradável fosse também a um agradável passeio, mas sim até ao Estoril.
Fui entretanto contactado pelo meu "benfeitor", a quem certamente terei que entregar a minha alma, e lá soube que ficarei nesses dois dias de congresso, hospedado no Hotel Palácio no Estoril, local onde em certa altura da história mundial se cruzaram espiões, reis, princesas, diplomatas e gente da sociedade e onde até o próprio Bond (o outro... o que fica com as gajas todas) passou um pouco do seu tempo.
E lá vou eu espiar o que se passa no mundo secreto das iscas de fígado!

Ciúmes

Porque não te falei hoje...
Só iria dizer asneiras, estragar tudo o que prometi, hoje num dia em que senti imensas saudades tuas, como todos os outros dias em que cada minuto é passado a recordar-te, com o acréscimo de um sentimento exagerado de ciúmes, que me dominaram por completo. E porque sei que estás a tentar ser feliz, não quis "aparecer" e ser um factor destabilizador da tua felicidade, da tua, que tanto amo, liberdade.

Tive ciúmes das pequenas coisas que diariamente convivem contigo. Das pedras da calçada que todos os dias sentem os teus pés, do espelho que todos os dias vê o teu olhar, do volante do automóvel que todos os dias sente o toque suave das tuas mãos, da almofada que todos os dias sente o leve frisado dos teus cabelos, do copo que todos os dias te beija os lábios sedosos... Sinto ciúmes de tudo isso e mais. E só o facto de saber que não te posso sentir, ver, tocar, beijar, tudo isso me fez sentir que se falasse, te roubaria um pouco mais de ti, te roubaria um pouco mais de felicidade, te roubaria um pouco de liberdade.
Por isso em silêncio te recordei, como em cada minuto que o faço, linda e com o ar encantador de quem adormece numa harmonia que só é permitida a mulheres maravilhosas como tu, num sereno sono de um aconchegante sofá onde poderia ficar horas a olhar e me apaixonar por cada pedaço de ti...

E neste tempo todo, ficaram para sempre duas perguntas que nunca te cheguei a fazer e que jamais poderiam ter sido colocadas. E assim para sempre ficarei com uma dúvida que me fará recordar-te.

Ciúmes de tudo o que diariamente te sente.

domingo, março 30, 2008

Sem tabus

Sou um pouco conservador, tenho uns ideais em certos aspectos da vivência diária um pouco retrógrados, mas mantenho a mente bem aberta a novas experiências e visões de vida.
Mas não deixei de ficar um bocadinho "chocado" com uma reportagem que hoje passou num canal de sinal aberto e sobretudo por se tratar de horário nobre. Não sei que mais irão fazer as televisões na luta feroz por audiências.
O tema em si, está cada vez mais a deixar de ser tabu. As pessoas cada vez mais aceitam o sexo como parte integrante da vida de cada um, estão mais desinibidas a discutir os problemas da sexualidade e cada vez mais há pessoas que procuram novas "abordagens" e experiências à prática do sexo. Ok, tudo bem até aqui. Mas em horário nobre, com potenciais crianças a ver. Não é que não seja importante os pais falarem sobre isto às crianças e cada vez mais precocemente. Mas uma coisa é falar de práticas, diria mesmo saudáveis de sexo, outra é falar de práticas estranhas de sexo, com acessórios estranhos, o voyerismo o exibicionismo.
As pessoas precisam de facto de educação para a sexualidade feita de forma séria e que sensibilize sobretudo para uma prática de sexo seguro, não do impacto de reportagens que o único objectivo é causar o escândalo entre os telespectadores e assim fazer subir o share médio para um determinado horário.
Deixe-se de pensar menos em audiências e mais em informação. Adaptando ao tema uma expressão ultimamente muito usada por professores...

Educação sexual sim, assim não.

sábado, março 29, 2008

Desequilíbrio

Estou a ficar velho, ou como diz a expressão popular, "quem não tem cu não se mete a paneleiro"...
Armado em jovem, que em nada se abala, sejam quedas, embates, tormentas, fui andar de mota sem um necessário, agora compreendo o porquê, aquecimento. Sei que os pilotos automóveis fazem uma boa preparação física, apesar da sua actividade ser executada sentada. Mas sempre pensei que era mais mariquice, para impressionar as fãs com os grupos musculares bem desenvoltos, do que a sua necessidade.
Mas no fim da diversão lá vieram as consequências. Fiquei com uma cervicalgia que agora nem sei como dormir.

Há uns tempos, um mestre do Reiki, em Serpa, tentou-me explicar que a doença se instala em cada um de nós quando surge um desequilíbrio no nosso corpo entre as forças positivas e as forças negativas. E apesar de tudo me parecerem na altura balelas, fruto de um psicótico brasileiro, fui percebendo que mesmo a nível estritamente científico este tipo de teoria tinha aceitação. Há mesmo uma hipótese que relaciona o grau de imunidade celular e humoral de cada um de nós, no combate a cancros, infecções, etc, com o estado de humor psicológico. E não pouco frequentemente é em fases de depressão que muitas doenças, até então ocultas se vêm a manifestar.

Quanto a mim, não sei se estou numa fase mais deprimida, mas a verdade é que ao juntar a esta dor cervical, tenho andado com uma sinusite que se arrasta há bastante tempo, que quase me levou à cova, porque mais uma vez lá diz o povo, "em casa de ferreiro, espeto de pau".

Que bem me sabia agora uma boa massagem.

Wild

Há brinquedos que saem caros e que no meu equilíbrio orçamental, dificilmente os fazia incluir como imprescindíveis. Mas o certo é que uma moto de quatro rodas dá uma emoção ao ser conduzida por esses trilhos e caminhos, fazendo-nos sentir donos e senhores de tudo.
De vez em quando, lá vou eu dar umas voltitas nesse brinquedo que o meu primo comprou há uns anos e esquecer tudo o resto, acelerar até ao red line no meio de matas e pinhais, escavando terra, e retirar um gozo imenso disso. Foi o que se passou este dia. Aproveitando um do sol primaveril que sorria por entres os restantes dias tristes de chuva e frio, peguei na mota, atestada que estava de sangue na guelra, e fui libertar algumas das tensões que durante a semana se foram acumulando, e descobrir que estou a ficar um pouco velho para tanta emoção radical!

Born to be "pouco" wild...

sexta-feira, março 28, 2008

Solicitação

De repente e após te ter dito que tenho saído com outras pessoas pareces insistir em algo que ficou lá no passado e que eu não estou interessado em reviver. Continuas com solicitações para partilha de momentos para os quais não acho correcto ou oportuno ter contigo.
Nunca te cheguei a compreender bem nestes anos que passámos juntos, com as flutuações de entrega que estavas disposta a dar, mas para as quais te fui sempre fiel. Agora entendo-te muito menos e não sei o que se passou de diferente para de um momento para o outro reveres em mim novo interesse, que estranho, por te conhecer tão bem, ou será que não te conheço de todo?
Certo que eu me tornei numa pessoa um pouco diferente desde então, mas foi para o interior de mim próprio, porque para fora, para ti estou disposto a ser sempre o mesmo que te vai guardar como uma boa amiga. Fiquei mesmo muito contente por descobrir que te guardei como uma boa amiga e por isso, mais não sei que te dizer sem te magoar, afastar demasiado e mesmo a amizade poder perder...
Eu sofri muito após Julho, mas consegui ultrapassar esses anos que pensei que não iria esquecer facilmente. Tu sobre a capa que gostavas de colocar de parecer mais forte do que realmente eras, até me pareceste bem mais determinada que eu em seguir por caminhos distintos, e fiquei várias vezes a sofrer ao pensar que o irias fazer no dia seguinte, que tudo o que tínhamos vivido em conjunto tinha tido pouco significado para ti.
Agora chegou o momento de também tu avançares, ultrapassares tudo o que foi passado para nós, e perceberes que eu não estarei sempre a teu lado para te proteger como fazia e verás que também tu serás feliz e encontrarás, como tantas vezes me repetiste nos nossos piores momentos, alguém melhor que eu, que te saiba amar como tu mereces...

Unavailable...

quinta-feira, março 27, 2008

A motoreta

E não é que de vez em quando se encontra cada um!
Estava eu em mais uma urgência, dessas que são um perfeito caos, em que já bastam os doentes que acorrem por sua livre e espontânea vontade e depois se vêm a juntar os que são enviados dos vários centros de saúde e hospitais menores dos arredores. A determinada altura atendo um doente que tinha sido enviado do Hospital de Tondela. E para provar como a colheita de uma boa história clínica é fundamental para uma boa orientação terapêutica e diagnostica, eis que chega este doente com uma suspeita de enfarte agudo do miocárdio. Ora agudo é praticamente sinónimo de instalação súbita de sinais e sintomas, mas o que este doente referia eram queixas de meses, sem qualquer agravamento nas últimas horas, sequer nos últimos dias. Mas não fosse o diabo tecê-las, lá deitei uma mirada a este caso como a tantos outros em que as queixas podem passar despercebidas.
Ao fim de colher a história, orientar uma terapêutica para o que me parecia ser mais uma dispepsia do que propriamente um enfarte e pedir umas análises para excluir mesmo este tipo de patologia, lá ficou o doente à espera da acção terapêutica instituída bem como do resultado analítico pedido.

Nem uma hora tinha passado, e vendo melhorias das queixas de meses, lá vem o doente dirigir-se a mim, muito atrapalhado a pedir-me para lhe dar alta, não tanto porque as queixas que eram agora menores terem passado, mas porque, tinha deixado a sua motoreta parqueada à porta do Hospital de Tondela, e com o aproximar da noite, estava com receio que algum malandro passasse e lhe levasse o veículo que tanto estimava!
Nem sei que expressão fiz, mas devo ter deixado transparecer que me iria rir a qualquer momento, não pela situação que me sensibilizou bastante e de imediato tentei orientar o doente, mas pela imagem de quase banda desenhada cómica que mentalizei em ver o doente montado numa pequena motoreta a cair de velha, que tantos anos aguentou a carga deste senhor que parecia um autêntico pickwick!

Da próxima traga a motoreta que também se lhe dá um jeito!

terça-feira, março 25, 2008

Decreto-Lei

Se hoje me tornasse governante a primeira ordem era de abolir este dia em que tinha sido eleito. Que me perdoem os que nasceram neste dia, mas amanhem-se, encontrem um novo, que este já era, jamais poderia voltar a ser mencionado, usado, seria um buraco no meio do calendário...
Só depois viriam as pequenas grandes mudanças. Demitia todos os directores gerais, administradores e parasitas de empresas públicas e organismos do estado, e pagando o justo pelo pecador, todos teriam que provar pelo seu real valor o lugar que ocupariam.
Ia ser um autêntico golpe de estado, para o qual teria que enfrentar provavelmente um terço ou mais da população portuguesa que alcançou um lugar desta maneira pela famosa "cunha" que não é mais que corrupção, essa de que os governantes nem querem ouvir falar, sequer reconhecer que existe, logo sem necessidade de ser expurgada da sociedade.

Limpava tudo... até o dia.

Triste

Porque estou triste, porque me sinto um miserável, pouco digno do ar que respiro, da água que bebo, dos sorrisos que recebo?
Aparentemente a vida até me tem sido favorável, tem-me dado quase tudo o que desejo no momento certo... E por isso é que me sinto tão triste.
Encontrei-me novamente a alimentar simplesmente as minhas necessidades básicas, ignorando em mim valores maiores em que sempre acreditei, numa nova fase de uma superficialidade animalesca. Desde a outra vez em Outubro, que parece que adoptei nesta maneira de ser um escape de fuga de relações estabelecidas ou em construção de forma a tentar atenuar o passado. O mal é que dificilmente o consigo, sem sentir mágoa, repúdio em tudo o que faço. E após a maior das emoções e sensações que alguma vez tive, neste pequeno trajecto de vida que rapidamente se avoluma, tudo o resto me parece pequeno, insignificante perante tudo isso, o que não vivi.
E vejo-me a entrar em caminhos tenebrosos, para os quais sinto desde já, grande dificuldade em os abandonar sem magoar quem não merece e que não tem culpa nenhuma do estúpido superficial farsante em que me tornei.

E eu que ainda acredito que posso vir a ser boa pessoa...

segunda-feira, março 24, 2008

Perfume

As memórias que se tornam mais permanentes, são aquelas que sofrem um reforço constante, e de entre todos os sentidos aquele que com maior facilidade tem em criar uma de longo prazo, é o olfacto. Por se encontrar numa zona mais profunda e primitiva do nosso cérebro e pela sua proximidade ao lobo temporal, estabelecem-se um maior número de sinapses, permitindo maior capacidade de informação armazenada e de maior qualidade.

Que situação estranha na qual me envolvi. Foi como se de uma nova coincidência se tratasse, agora mesmo sem ti, mas que me levou a um estado de perfeita loucura, desse tipo que julguei ter deixado no passado, de sexo sem amor.
Ao sentir o teu perfume, esse que tão bem recordava e que já noutra situação bem menos constrangedora o tinha sentido, fechei os olhos e senti-te bem perto de mim, tão perto que te podia cheirar, beijar e sentir a tua pele a tocar na minha, como amantes que numa intensa partilha de afectos se uniam num só corpo e transformavam o amor e paixão ideológica em algo físico, de profundo desejo carnal. E tudo isto me fez amar-te ainda mais, mesmo quando te senti noutra pessoa, que me fez acreditar que me partilhava contigo por causa dessa fragrância que me deixou fora de mim e me fez perceber que apesar de tudo sou cada vez mais teu.

Posso nunca vir a pertencer-te, mas amar-te-ei para sempre.

Não é fácil...

Não é fácil para um homem nos tempos que correm estar ao nível de se fazer amar por uma mulher. Tem de se ser uma luta diária, e por isso mesmo é necessário que diariamente se afirme o amor que se sente. Não se pode cair na facilidade do adquirido, na habituação, porque é com as rotinas que tudo parece acabar.

O Director do Serviço onde trabalho, tem flutuações de humor, entre uma depressão que o parece esgotar completamente e um estado de mania em que se torna empreendedor, dinâmico, por vezes até demais... E foi fácil perceber, mesmo pelo que ele transmite que tal condição de rápidos turnovers é fruto de uma inconstância sentimental com a mulher que ama. Sim, porque se percebe que a ama, mas que também se deixa cair facilmente na habituação e de ter esta afirmação diária daquilo que sente. No passado, houve inclusive uma ruptura de alguns anos, que tornaram um homem por natureza dinâmico num homem em que o arrastar de lamentações e adinamia se tornaram o habitual.
Mas como ele próprio o disse, uma pessoa muito aberta e que diz sem receio nenhum o que lhe vai na alma, este ano começou bem e esperemos que assim continue.

Não se pode baixar os braços e tomar o amor como garantido...

domingo, março 23, 2008

Não me deixe morrer

Senti uma enorme emoção quando uma doente me disse: "Por favor, não me deixe morrer... tenho uma bebé para criar."
Estava mesmo numa situação limite de vida, que se não tratada pode levar à morte. O edema agudo do pulmão é um quadro clínico em que o doente sente como se estivesse a tentar respirar debaixo de água, e que gera uma grande agonia e desespero.
E eu, numa posição estúpida de prestador de cuidados de saúde, em que mostrei pouca empatia, ia-lhe dizendo para ter calma, uma calma que sei que tardava a chegar, pelo não imediato efeito terapêutico, mas que com um pouco de tolerância acabaria por chegar e também com uma ajuda de morfina.

Contactado o colega dos cuidados intensivos, para onde esta doente iria após a sua estabilização e resolvida a situação aguda, lá se descobriu depois que esta mãe tinha sido "vítima" de uma das possíveis complicações de um pós parto, em especial por cesariana, um tromboembolismo pulmonar. A sensação de que estamos a ser afogados vivos deve ser verdadeiramente horrível.

Eu luto a cada momento para que ninguém morra...

Zé Barbas

Esse Zé que vi nascer, criei e eduquei, deixou agora crescer a barba, como se tivesse tornado num homenzinho. Diz que é para dar um ar de maturidade... Seja. Para mim é um ar de desleixo e de incómodo sobretudo quando se sente os próprios folículos capilares a irritar a nossa pele.

Vê lá se cortas a barba e perdes de vez esse ar de corsário que uma barba mal arranjada te dá! Ou já a formiga tem catarro?

Assim tornamo-nos mesmo diferentes.

quinta-feira, março 20, 2008

Primavera

Quem será ela, esta prima que todos os anos nos visita, por esta altura, mas que nos últimos anos tem vindo um pouco desregulada?

Hoje é o primeiro dia de Primavera...
E se por um lado a Primavera parece ter-se antecipado um pouco, quando em Fevereiro começaram a abrir as primeiras flores, precocemente, também parece que nunca mais iria chegar por entre as noites frias que nos últimos dias se abateram sobre nós.
Sê bem-vinda prima Vera que já te aguardávamos.

quarta-feira, março 19, 2008

O maior de todos

No dia do pai, e numa altura em que eu próprio andava a precisar de ver novamente as maravilhas que a humildade, a entrega, o amor total ao próximo podem fazer, eis que surge na televisão, quase a pedido, uma mini série sobre a vida de São Francisco de Assis e de Santa Clara.

Já por outras ocasiões, manifestei aqui no meu cantinho de reflexões, o fascínio que vejo no estilo de vida que Francisco assumiu...
A humildade, o descermos ao nível do mais simples, e ver a beleza do mundo com os olhos de uma alma desprovida de grandes aspirações, ambições e viver para as pequenas coisas capazes de mudar o mundo.

E por isso considero que este pequeno e humilde, o mais humilde de todos, se tornou no maior santo de todos, quando deixou todas as certezas da vida para se entregar a uma causa maior, abraçando-a com a maior das simplicidades, e "reconstruiu" a igreja, fazendo-lhe ver que o amor não precisa de ser ostentado, mas vivido de forma pobre, sincera, grande.
E venham novos pecados, novas regras ou proibições, às quais ninguém vai ligar porque não são transmitidas da maneira correcta, optando-se pela sua imposição e por isso são rejeitadas. Se as pessoas se apercebessem, tal como a mensagem que Francisco fez ao relembrar a uma igreja podre, envelhecida, comodista no conforto da riqueza, que é na entrega simples que está o maior amor, talvez hoje o mundo estivesse bem melhor.

Senhor, faz de mim um instrumento da Tua Paz.
Onde houver ódio, que eu leve o Amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a União.
Onde houver dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a Luz.
Senhor, faz que eu procure mais
consolar que ser consolado,
compreender que ser compreendido,
amar do que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se ressuscita para a vida eterna!

São Francisco de Assis

Saudade

Enfim...

As coisas vulgares que há na vida
não deixam saudades
Só as lembranças que doem
ou fazem sorrir


Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir


São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder


Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer


A chuva molhava-me o rosto
gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
já eu percorrera


Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera


A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
trazendo a saudade


Chuva, Mariza
Composição: Jorge Fernando

terça-feira, março 18, 2008

Funcionalismo Público

Tantos temas de conversa que já suscitaram a forma como se trabalha na administração pública, sobretudo na central, que se ficou já descrente numa melhoria neste sector, venham as reformas que vierem infrutíferas, venham as alterações que nada mudam. Mas andava à procura de uma imagem para colocar num dos posts anteriores e não pude deixar de achar piada a velhas piadas, como a este estudo feito por este auditor interno à "grande produtividade" portuguesa! Faz mesmo lembrar a imagem caricatural mas bem real de um único trabalhador de obras públicas a exercer trabalho efectivo e duas dezenas de observadores, engenheiros técnicos ou efectivos, orientadores, capatazes e restantes supervisores em seu redor...
E no privado será igual?!

(O meu) Ensaio sobre a cegueira

Ontem vi num canal de televisão nacional uma daquelas reportagens de certa forma sensacionalista, que mais que tentar mostrar para a sociedade a boa vontade que ainda reina entre as pessoas, de obras sociais sem interesses obscuros, mostra os jogos de bastidores que se encontram por detrás como lobo vestido em pele de cordeiro.
Todo entusiasmado com que estava em saber o resultado do Sporting a vencer, ao contrário do que tem sido habitual, e reparei numa reportagem sobre doentes algarvios que se dirigiram a Cuba, com pensão completa paga pela autarquia, para serem operados a problemas oculares, grande parte deles a Cataratas.
Inicialmente pensei mesmo que se tratava de Cuba, a vila mais hospitaleira do Alentejo segundo os autóctones, e que para além da resolução do seu problema de olhos, também se iria tratar ali da alma a estes turistas algarvios, entre a boa comida alentejana, as gentes simpáticas e os ares saudáveis dos campos de trigo e vinho! E cheguei mesmo a considerar um bom negócio este de clínicas dispostas a englobar tudo num pacote nacional...
Estranhei, ou não, pelo seu já antigo conhecimento, que era mesmo Cuba, essa ilha igualmente de república socialista, mas onde ainda há ditadores, ao contrário da nossa, onde já impera desde Abril uma verdadeira democracia popular.

E porquê o meu debate sobre isto, a quem a política tem o interesse que tem de um cidadão que há muito deixou de acreditar nas instâncias governativas e de administração estabelecidas.
Em Portugal há capacidade para este tipo de cirurgias. O que se passa, e que levou à incapacidade de resposta para os problemas destes doentes foi um desinvestimento feito ao nível do sector público da saúde nesta como em outras áreas de medicina assistencial. E como quem paga sempre a factura é quem tem menos condições económicas para suportar por si só as despesas de uma saúde progressivamente mais técnica como dispendiosa quando realizada toda à custa do doente, levou a que milhares, sobretudo das faixas etárias mais idosas, com menos recursos tivessem que ficar em listas de espera de hospitais públicos em que há cada vez menos oftalmologistas, pela atracção que o sector privado exerce sobre estes profissionais.
Pode-se realmente culpar estes clínicos, por não terem sido "patriotas" e terem deixado de acreditar num sistema nacional de saúde, quando é a própria administração que prefere subcontratar profissionais ao privado? Eu acho que não. Foram já muitas vezes apelidados de mercenários e talvez os haja por aí, mas outros há que mesmo em exercício de uma medicina privada dão importância aos recursos sócio-económicos de uma população carenciada.

E se fosse realmente vontade das autarquias em causa resolver os problemas sem interesses escondidos, o sector privado nacional poderia mais que suficientemente e a preços sensivelmente semelhantes resolver os problemas destas gentes, a quem só a saúde interessa, nem que seja o diabo a oferecer-lha. Mas o show off político e audiovisual tem assim maior impacto ao se levar uma dezena de idosos que nunca saiu sequer do seu cantinho algarvio a Cuba, Antilhas, do que os mandar a uma clínica a Cuba, Alentejo, que pela pouca importância da deslocação teria pouca notoriedade e importância no acto eleitoral.
Não vemos o que não nos interessa.

segunda-feira, março 17, 2008

Instinto

Quando é que irei confiar mais no meu juízo clínico, sem temer consequências do meu acto médico e sem limitar a minha atitude e pensamento, só porque sou ainda experiente enquanto Internista?

Na última urgência, vi um doente, que pela minha avaliação clínica me parecia ter um quadro clínico compatível com uma parésia facial do tipo periférico, condição que necessita obviamente de tratamento, mas sem grandes implicações clínicas para o doente e com relativo baixo grau de gravidade. Ora o mal, é que este mesmo doente tinha já sido observado por um colega de Neurologia, com a suspeita de esta parésia facial se tratar de um acidente vascular cerebral do tipo isquémico, ou seja central.
Como fico eu, ignorante na minha observação perante um colega com bem mais experiência clínica, apesar de em tudo na observação apontar para que a minha hipótese diagnóstica se tratar da mais adequada a este doente?
E ainda tive que informar erradamente a família e o próprio doente de que padecia de um quadro clínico bem mais grave que o que realmente tinha. E se a informação serve sobretudo para retirar muita da angústia que o doente e a família tem perante a doença, neste caso, a suspeita de se tratar de uma AVC, foi factor causador de maior ansiedade por parte de todos. Encontrei-me a defender ideias de outros, nas quais depositava pouca fé. Mas como em tudo na vida, este tipo de atitude de contrariedade perante o que se acredita correcto, faz-me sentir incapaz de pensar por mim mesmo, limitado que estava por opiniões de suposto rigor e excelência diagnóstica e de maior experiência.
O que acabou por acontecer, a bem do doente, é que mesmo com estas "lutas" de opinião, sobre quem está certo ou errado, lá se veio a constatar a título definitivo que se tratava de facto de uma parésia facial do tipo periférico, causada por uma infecção otológica concomitante e mesmo na altura do internamento, contemplando que a minha hipótese pudesse estar correcta orientei a terapêutica de forma a englobar as duas condições clínicas.

Lição a tirar. Mesmo mantendo a humildade necessária para saber que sempre terei limitações, e que é impossível saber-se tudo e ter 100% de eficácia diagnóstica, porque o juízo clínico é bem mais que o conjunto de conhecimentos individuais de cada um, tenho que começar a acreditar mais em mim, também na minha observação e juízo clínico, e se alguém for de opinião contrária à minha, que a justifique com factos objectivos e seja ele próprio a comunicá-lo ao doente.

O conhecimento é uma condição necessária, mas não suficiente para se ser médico.

domingo, março 16, 2008

Ser Benfiquista...

Há quem diga que ser benfiquista é ser português, tanto é o orgulho de quem tem esta tendência futebolística nos 6 milhões que dizem ser... E por isso há mesmo quem confunda o perfil do macho latino português, com o perfil do fanático pelo Benfica. A música até diz que "ser Benfiquista é ter na alma uma chama imensa...", o que nos últimos temos parece escassear.
Não pude deixar de encontrar piada em mais uma pérola, que encontrei no blog de um colega e amigo, daquelas com a qual a velhinha revista Maria nos oferende de vez em quando e que já deixaram de surpreender pela sua excentricidade.
E sem mostrar nada que possa ser demasiado ofensivo ou ridículo, como é apanágio desta revista, aqui fica a dúvida desta leitora...

E não levares porrada é uma sorte!!!!
palavras do colega que inicialmente colocou esta imagem no seu blog

Quaresma

Este ano nem parece que se avizinha a Páscoa. Por ser tão cedo, ou por não a ter vivido como devia, tudo neste ano me fez esquecer o período em que estamos.
Gostava de ter feito mais alguns "sacrifícios", não me sentir tão egoísta, crescer interiormente, como em cada ano de introspecção. Mas este ano fui capaz de quase nada. E nem mesmo o maior dos sacrifícios tenho sido capaz de me fazer cumprir, em recaídas sucessivas, por lembranças que me dão felicidade, mas que reconheço como erradas.
Mas tentarei também eu ultrapassar a longa caminhada pelo deserto para depois me ver na terra prometida da felicidade. Por isso luto, por isso acredito, por isso contínuo o meu caminho...

Este ano tem tido pouco sentido.

sábado, março 15, 2008

Cefaleias

Pareço um psicótico, em contradições que me deixam com a cabeça em migas... No meio de uma hipomania consumista, já me tinha esquecido como detesto andar às compras.
Gosto de chegar, ver pouco e do que gosto, comprar. Não entro nos métodos da minha mãe, que de observar tanto e tanta coisa ficaria tão confuso que não saberia o que adquirir.
Mas há certas coisas em que não podemos tomar decisões destas, a quente, que precisam de ser reflectidas, pelo volume que representam.
E por isso hoje fiquei de rastos. Todo entusiasmado com que andava, para depois quando o repouso chegou me ver a braços com uma brutal cefaleia que parecia fazer implodir o telencéfalo sobre os metancéfalo e núcleos da base, criando uma herniação que me levaria à morte.

Só as memórias me trouxeram algum alívio.

Às compras

Estes tempos têm sido difíceis para empregar os rendimentos auferidos. Desde que voltei a casa dos pais, em poucas circunstâncias tenho sacado da carteira para pagar qualquer coisa, proibição quase que imposta pelos progenitores que insistem em tratar-me como criança, tentativa frustre de me tornarem novamente dependente deles.
E por isso, em momentos de consumismo desenfreado, que por vezes me surge como contradição ao que é meu hábito, decidi hoje ir às compras.
Uns dois pares de calças, umas camisas, uns boxer shorts, uma casa, um perfume, mercearia própria de um homem em que a barba não pára de crescer, coisas triviais que fazem parte de um dia-a-dia comum de qualquer pessoa... Parecia uma mulher (desculpem-me as senhoras pela analogia hollywoodesca) a quem se deu um cartão de crédito para gastar à discrição!

Ok... casa ainda não comprei. Mas comecei a ver algumas, para ver se invisto em imobiliário, mesmo com a instabilidade financeira nacional e internacional no crédito. Não que precise de uma prementemente, e por isso tenho tido bastante paciência e cautela no investimento a fazer. Mas é mais como símbolo de uma emancipação familiar e autonomia que adquiri ao longo de fastidiosos 8 anos afastado do seio parental e justificação subconsciente para o empenho laboral a que me sujeito semanalmente. E se para se ser feliz só é preciso amor e uma cabana, vou começando por umas das partes e aguardar que a outra um dia destes bata à porta, quem sabe da minha nova habitação!

Um dia destes lá gastarei as poupanças.

Enxertar

Hoje de manhã fui com o meu pai enxertar umas árvores. Essa arte de unir partes vegetais de duas plantas distintas, sem respeito por qualquer histocompatibilidade HLA ou ABO... Fez-me pensar como seria ideal esta universalidade do mundo vegetal, em que é mesmo possível enxertar um espécie frutícola numa árvore de outra espécie, no mundo animal, nomeadamente no que respeita à transplantação de órgãos.
Mas de utopias está o mundo cheio, como aquela que enquanto criança pensava vir a executar! O primeiro transplante cerebral... Talvez estivesse a pensar em mim próprio, que com estas ideias aparvalhadas bem que precisava de um mesmo, um mais presente da realidade!

Mas mais uma vez, senti neste acto, que de ciência tem muito, mas que o comum agricultor, neste caso silvicultor desconhece, pela simplicidade que representa a sua execução, uma aproximação ao campo, ao seu ar, à sua vida pacífica, à sua simplicidade de vida que tanto me atrai e fascina.
E de forma muito romântica vi o encanto simbólico que é o fundir de duas partes estéreis de dois seres, surgindo de forma magnífica, por esta união, um fruto cheio de vida e beleza única, como resultado mágico de leis universais que ainda pouco compreendemos.

Enxertar, vem do latim insertare que significa inserir, introduzir, e consiste em unir partes de vegetais oriundas de plantas distintas, resultando em uma só planta.

sexta-feira, março 14, 2008

Cansaço

Ao sair hoje de manhã de uma urgência que mais parecia retracto de um cenário de guerra, e que fizeram lembrar o caos em que se tornaram as do Hospital de Faro, pensei conseguir resistir a todo o cansaço acumulado e ficar acordado para gozar o tempo livre do dia seguinte que o meu chefe me deu de folga.
Não sou muito de dormir, sob a máxima de quando se morrer ter-se-á muito tempo para dormir. E em casa aos fins-de-semana era dos primeiros a acordar, o que irritava profundamente o meu irmão, porque pouco tempo depois estava a tentar que ele também aproveitasse a vida dormindo menos e vivendo mais e me fizesse alguma companhia nas frias manhãs em que nada há para fazer!
Mas hoje, a seguir a um almoço copioso e sem nada de interessante para fazer, deixei-me encostar no sofá, tomar uma sesta e viajar pelo mundo onde não há problemas, onde o impossível se torna exequível, pelo mundo dos sonhos.

E talvez tenha sido esta também uma tarde bem aproveitada, para dar descanso ao corpo que há algum tempo me vinha a pedir mais calma e menos actividade. O que ficou por fazer... surtirá em maior rendimento, após o recuperar de energia destas breves horas!
"Os Internos são como as cordas de um violino. Muito soltas desafinam... muito esticadas partem."
autor desconhecido, ciado pelo meu tutor

Correção

Este texto podevos parecer cheio de erros ortográficos, mas na verdade tenta de forma mais ou menos ajustada, respeitar o novo acordo ortográfico da CPLP, que segundo os nossos governantes entrará em vigor de forma definitiva dentro de 6 anos.
Tratasse, segundo os entendidos, de uma aproximação à língua falada por uma maioria de língua portuguesa, o português do Brasil... E se para algum de nós subsistirem algumas dúvidas, basta um curto estágio neste grande país para a sua total compreensão.
As grandes novidades são a queda das consoantes mudas, os p e c, que ao longo do tempo se foram desatualizando na escrita e a união de algumas palavras separadas por hífen que agora se juntam no caso se imediatamente ao hífen surgir um s ou r, que passa a ser dobrado.
A mim causa-me grande estranheza e confusão estas regras, eu que ainda vejo na forma clássica de português grande beleza e não pouco frequentemente ainda adiciono um ou outro c nalgumas palavras que há muito o perderam.
E pelo andar da carruagem, adaptação por adatação (que estranho, este ato de não datar!! espero que contemple exceções...), também os x que na linguagem de sms substituirão os s e irão entrar pela porta da incorreção na escrita comum, o que ainda me confunde mais...

...pouco correta.

quarta-feira, março 12, 2008

Trabalho, só trabalho

Que vida de formiga. Tudo em mim é trabalho. Estudo para trabalhar, como para trabalhar, durmo para trabalhar, trabalho para trabalhar. Até os momentos de lazer e diversão, envolvem trabalho...
Abandonado à minha sorte, sem nada definido neste momento, tenho-me dedicado a juntar uns trocos em sucessivas horas de trabalho extra. Não me posso, no entanto, queixar, porque adoro o que faço e no dia de são receber, o cheque tem compensado o esforço. Mas trocaria tudo isso, todo os ganhos e sucessos de uma vida profissional ainda curta, por uns poucos momentos de verdadeira alegria, na companhia de quem me fizeste sentir feliz, na companhia de quem eu pudesse fazer feliz. Um professor meu dizia em determinada altura do curso, já nós nos encontrávamos em recta final para uma entrada aguardada no mercado de trabalho: "Não se podem esquecer nunca do mais importante. O amor. Nada vale se não houver amor. A medicina é importante, os doentes são importantes, mas o amor é muito mais."
E apesar dos seus sábios ensinamentos, tem sido difícil cumprir este objectivo. Chego a pensar que tudo isto é o meu fado... Apanhado que fui pelo seu fatal desígnio, em amar o impossível, descobri que também na minha profissão, no meu estilo de vida, encontrei uma forma diferente de amar, de realização pessoal e é com esse sentimento que tento ser cada vez melhor, acreditando que em cada doente posso ajudar a melhorar a sua vida e com isso ser eu próprio mais feliz. Só nunca pensei que a frase que no primeiro ano nos obrigavam a interiorizar se pudesse tornar realidade em mim, de ver a Medicina como um sacerdócio com celibato.
Não tem sido falta de tempo nem de oportunidades. Só não é de mim ter um relacionamento mais sério com uma mulher sem acreditar que me posso entregar a ela por completo. Não seria justo, para ela, para mim, para ninguém e por isso, continuo na demanda pela felicidade plena, onde quer que ela esteja, com alguns momentos de superficialidade, em que me deixo levar pelas sensações, mais que pelos sentimentos.

"Os homens... perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."

Dalai Lama

terça-feira, março 11, 2008

Seguir

Foi como se o Mundo tivesse acabado, com todas as asneiras que faço na vida. Mas tudo o que acabou por acontecer foi o desfecho necessário para todos os impossíveis que estaríamos a viver.
E após tanta loucura para a qual te arrastei também, vou seguir, porque tivemos a noção de uma cruel realidade. Seguir em frente, porque te respeito e amo muito e porque mo pediste. Se fosse só por mim deixaria tudo, partiria e iria ter contigo se necessário até ao fim do Mundo, sem interesse pelas condições em que te encontraria. Mas por ti, pela tua felicidade, compreendo tristemente que é melhor assim e deixar seguir também a tua vida, nas certezas que tens...
E se no futuro, no qual não ouso sequer pensar, pudesse por fim reencontrar-te, ficaria eternamente feliz.

Hoje imaginei-me com 60 anos, felizes e amantes como se os anos não tivessem sequer passado, numa intemporalidade do tempo saboroso de partilha de existências, às quais dediquei grande parte dos meus sonhos e pensamentos.
Mas ambos sabemos, que a promessa de um novo reencontro, tardará em vir, e o conforto da memória desvanecer-se-á nos dias que passarão e se tornarão cada vez mais longos, num caminho penoso de esquecimento que a pouco e pouco me tornarei em ti.

E se escrevo hoje, contra aquilo que prometi não mais o fazer no blog, é porque me sinto só, sem ti para falar, para te contar o que ainda e para sempre vou sentir, um verdadeiro amor, sem limites, maior que tudo o que existe em mim. E nunca, nunca me esquecerei de ti e dos momentos em que contigo me partilhei, em ideias, sentimentos... e guardar-te-ei para as alturas em que fecharei os olhos e nas memórias de ti recuperarei forças, para as minhas lutas diárias.
Procurarei ser feliz, não pelo completo que tu me fizeste sentir, mesmo com toda a distância física que nos separou. Mas feliz em pedaços, tentando colmatar com pequenos momentos a tua falta, com a certeza de que te amarei em todas as outras.

E se de alguma coisa me arrependi em tudo o que se não passou, foi de não ter tido a coragem de ter ficado por Lisboa, e mesmo ferido por um amor impossível, não ter continuado na batalha, por ti, por nós.
Vou seguir, mas amar-te para sempre...

A Infanta

Em 1997, para celebrar o nascimento da Dona Maria Francisca, escrevi um soneto, a que chamei "A Infanta", em jeito desses camonianos, como não voltei a repetir, uma vez que respeita todas as regras métricas que um soneto deve ter... Como sabeis, duas quadras e dois tercetos, com dez sílabas métricas por cada verso.
A pequena nasceu a 3 de Março de 1997 e no dia 11 deste mesmo mês e ano, escrevi este soneto, que de floreado tem bastante, mas foi a única maneira que consegui para ajustar a tanta regra.
Já sei porque Camões perdeu um olho e porque Florbela Espanca se matou... É que isto é difícil!

Infanta com grande alma portuguesa,
Liberta a cantiga presa no olhar,
Construindo com tamanha grandeza,
Um real Portugal de impressionar.

Sois a donzela, sois uma criança,
Que qualquer homem consegue cativar
Bastando simplesmente assim desejar,
Nos corações humanos esperança.

Irradiais do gesto graça tanta,
Que graça dais ao pobre desgraçado
Dando-lhe vida que o Mundo espanta.

E se fora do seu real agrado
Filha ilustre da Rainha Santa,
Por si ficaria aprisionado.

Sebastião da Graça
“A Infanta”, 11 de Março de 1997

sábado, março 08, 2008

Mulher...

Hoje comemora-se o dia da mulher. O que me faz um pouco de confusão é a necessidade de se protocolar um dia, porque porventura não será todos os dias? Para mim é. Penso todos os dias, todos os segundos numa mulher! Não consigo sequer imaginar existência de vida sem o fazer, sem saber se estará feliz, se é acarinhada, amada... E todos os dias sinto que a podia celebrar, com a devida dignidade, respeito e magnificência que merece.

Mas neste dia, também queria enaltecer a mulher que existe na pessoa da minha mãe. A minha mãe pacífica por natureza, que hoje se juntou, pela convicção de que algo vai mal, a uma manifestação de cerca de uma centena de milhar. A minha mãe que até agora se manteria na luta de forma discreta como o terá feito em outras ocasiões, mas que hoje num grito de grande coragem e audácia que tanto é característico da feminilidade das mulheres e se uniu às vozes de descontentamento de uma política educativa, que mesmo que seja correcta está, mal organizada, mal fundamentada.

E assim hoje, não que fosse necessário, porque continuamente o faço, decidi também eu lembrar-me de forma especial as mulheres que amo, deixando um beijo às mulheres que entraram na minha vida para ficar.

...a mais perfeita criação!

quinta-feira, março 06, 2008

Primeira vez

A primeira vez tem sempre um gosto especial, que nunca se esquece. O nervoso inicial, o receio em não se fazer bem, mas...

Foi a primeira vez que fiz uma biópsia hepática. De entre as técnicas usadas como recurso comum na Medicina, só me falta mesmo uma biopsia pleural, para completar o rol de manobras técnicas.
Tudo foi possível, graças ao excelente tutor que a sorte, que continuamente tenho, e o senhor Director me presentearam. Sou o seu primeiro interno, e tudo é novo para todos. Tudo o que seria para ele fazer, deixa-me a mim enriquecer curricularmente, tudo o que a ele lhe daria imenso prazer fazer na medicina, deixa-me a mim desfrutá-lo! Tenho andado muito satisfeito com a sorte que me calhou, entre as novas aventuras num novo hospital.

No entanto nem tudo são rosas... O elevado nível de conhecimento do meu tutor, faz-me continuamente sentir um perfeito ignorante, o que me tem obrigado a um contínuo e incansável estudo, sobre assuntos que pensava ter assimilado e que agora leio na perspectiva de um dia os vir a dominar, na abordagem global que a Medicina Interna é.
Mas como ele sempre me diz, daqui a 5 anos é natural que eu venha a saber mais do que ele, palavras de conforto que não expressam realidade, mas é no meio destes incentivos que quero crescer enquanto profissional e médico.

E serão 5 anos de trabalho conjunto...

terça-feira, março 04, 2008

Engatatão

O bom da vida que abracei é que continuamente sou confrontado com um ou outro verdadeiro milagre, que me faz sentir que esta é a melhor profissão que alguém pode ter.
Há uns dias atrás, entrou na urgência um senhor dos seus 80 anos, independente até então, e que subitamente teria sido encontrado caído em casa. Tinha sido vítima de um AVC hemorrágico, condição clínica com prognóstico muito reservado, com taxas de mortalidade imediatas muito elevadas e de complicações muito frequentes.
No entanto, os que resistem às primeiras horas, os poucos que conseguem, são brindados pela vida, como que para uma nova existência!
Foi o que aconteceu com o senhor Manuel, tão Manuel como todos os outros homens, e que teve uma recuperação milagrosa.
De tão milagrosa ser, ao décimo dia de internamento, já não tinha qualquer sequela do AVC de que sofrera e estava pronto a enfrentar a realidade domiciliária.
E de tanta surpresa ser para o próprio, apercebendo-se de como tinha tido este bafo de vida renovada, sentiu-se com forças para a abraçar por completo. Tanto o quis fazer que ao ter alta, recusava-se a recorrer ao uso de muletas para locomoção de problemas prévios osteo-articulares. Sentia-se com vontade renovada de engatar moças lá no centro de dia para onde iria passar as tardes, e estes acessórios pouco práticos eram incómodos na hora do flirt.
Ao fim de uma conversa descomplicada, lá consegui convencer o senhor Manuel que é bem melhor ir ao engate de costas bem direitas e de peito aberto à beleza de uma mulher, que curvado perante a resignação da condição física, mesmo à custa de insignificantes questões inestéticas condicionais.
E lá teve alta mais um milagre da Medicina portuguesa!

Boas conquistas!

segunda-feira, março 03, 2008

Who decides who lives or dies?

Quem somos nós que decidimos sobre vidas? Quem somos nós que ao ver cada doente com necessidade de suporte de vida, nos fazemos continuamente a pergunta: É para investir?

Gostava que a resposta fosse só uma. Sim, investe-se em todos, sem excepção. Mas seria falta de verdade e errado dizê-lo. O estado da arte, a que a medicina chegou, permite virtualmente e manutenção artificial de uma vida por um tempo indeterminado. E com isto seriam maiores as questões éticas, profissionais, pessoais, que as respostas. Para cada doente teria de haver capacidade técnica para o seu suporte, o que seria um esforço humano (porque o económico nunca seria problema, para uma vida) sem precedentes e em última instância estar-se-ia a entrar na prática de distanásia. Até que ponto é correcto prolongar um estado de sofrimento e doença...
Não o digo sem sentir uma enorme angústia por cada um dos doentes em que esta questão se coloca. Tentamos ser um pouco superficiais, abstrairmo-nos da condição humana que somos, para o podermos fazer. No entanto, somos tão ou mais humanos que os restantes, nesta difícil tarefa que é de ajuizar sobre o investimento que se faz na vida.

Choro por cada um que parte.

sábado, março 01, 2008

Especial

Não estava à espera que me dissesse nada. Já tinha pensado nisso, sim, que talvez viesse um dia destes pedir-me para escrever algo numa fita, mas sempre num sentimento binomial de que talvez não o fizesse. Mas porque não o fez da forma mais simples? Bastava dizer que queria que escrevesse algo, sem necessitar de um prólogo em que me dissesse que fui especial, muito importante, único nestes anos da vida dela... Tê-lo-ia feito na mesma, sem ressentimentos que nunca chegaram a aparecer. Mas quem compreende as mulheres?

Encontrámo-nos, após alguns meses sem termos dito quase uma palavra, para me deixar a fita. Mas ao contrário de outras vezes, não senti agora mais que afecto por uma amiga, que descobri ter mantido. E talvez o tenha deixado inconscientemente transparecer e em pouco tempo se desvaneceu o seu entusiasmo inicial.
E por isso te peço desculpa se te alimentei alguma esperança, com um reencontro que em muito teve de banal.
Fiquei a pensar como em tantas outras alturas do passado, no que tivemos. Foi especial sim, mas teve os seus momentos, o seu tempo, que já passou. E tenho percebido, que o que aconteceu entre nós não foi suficientemente forte, faltou sempre algo que nos completasse e por isso não consegui lutar mais por algo em que tu nunca fizeste muito por acreditar. Manter-te-ei sempre com o carinho que te devo, pela amizade que conseguiu resistir, mas...
E agora a dúvida sobre o que escrever, em relação a alguém que agora me parece tão estranhamente desconhecida.

Também tu me apoiaste e confiaste em mim nestes anos.

Quase os matava

Estava na urgência ontem à noite. Não pude assistir à surpresa que o meu irmão fez aos meus pais ao vir sem aviso prévio a Portugal este fim-de-semana! Quis fazer-nos uma surpresa a todos, mas astuto como sou e na "geminês" de tudo o que somos, descobri a tempo de não ser apanhado de sobreaviso e assim preparar em silêncio a sua vinda.
A minha mãe interrogava-se diariamente quando viria, o meu pai ocultava nesse seu ar de insensibilidade uma vontade de o ver proximamente, e por isso choraram de uma alegria de o voltar a ver! E esperei o momento em que viria um deles ter à urgência, em choque com tanta emoção, momento que felizmente não chegou a acontecer...

E agora que veio, para nos fazer companhia neste fim-de-semana, e sobretudo para vir cortar o cabelo, poupar 3 euros e comer a boa comida portuguesa da mamã, vou ficar toda a noite a falar com ele, a não o deixar dormir, a não dormir eu próprio mesmo após uma longa noite de trabalho, para nos contarmos tudo o que pelo telefone parece estranho falar.

És muito maluco! Mas adoramos-te assim!

sábado, fevereiro 23, 2008

20 anos de «para o ano é que é»

Não imaginava enquanto utente, e pouco assíduo, que o hospital de Viseu estivesse a rebentar pelas costuras no número de internamentos.
O número total de camas para internamento em Medicina e distribuídas por dois serviços é de cerca 120 camas. No entanto, em todo o hospital haverá sensivelmente mais entre 60 a 100 doentes sob a alçada da Medicina Interna. Como se explica este fenómeno?
Há já cerca de 20 anos que o hospital padece desta doença que incessantemente teimam em não querer curar. Desde essa altura, outros serviços disponibilizam parte das suas camas para a Medicina Interna. Ora isto acontece, não só porque há grande número de doentes idosos, com múltipla patologia, mas também porque estas especialidades pedem, empurram doentes para serem vistos por um médico, pela sua complexidade, dúvida no diagnóstico ou por uma sem razão. Chega-se ao ridículo de estar um colega de uma especialidade cirúrgica em plena enfermaria e chamar por um médico numa emergência.

E se tudo isto não fosse estranho, basta dizer que o novo hospital de Viseu, cheio de condições, ainda novo mesmo para os parâmetros actuais, tem apenas 10 anos. Onde estavam os actores de há 20 anos atrás, quando estes problemas se começaram a colocar? Onde estão esses mesmo actores, agora que a situação se perpetuou? Há muito que se fala em aumentar o hospital, de facto ele foi construído com essa mesma intenção, de crescer... Mas a realidade é outra. 10, 20 anos depois a situação mantém-se, correndo-se o risco, sempre presente mas continuamente contrariado por cada um dos profissionais, em não se perder a qualidade de prestação de serviços no meio desta confusão que é tornar todo o hospital de Viseu de uma só especialidade.
Infelizmente, as sucessivas administrações vêem a Medicina Interna como não lucrativa à luz dos parâmetros dos actuais hospitais-empresa, optando sim pela área cirúrgica do doente são, que vê rapidamente e em poucos dias o seu problema resolvido, com maior retorno financeiro por parte do accionista maioritário, o estado, que descura cada vez mais as verdadeiras necessidades de uma população envelhecida, com multipatologia e que necessita por isso de uma abordagem multidisciplinar, de uma abordagem do todo que é o indivíduo doente.

É urgente uma cura. Será este ano?

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Ajustamento

Para toda a alteração feita, há sempre uma reacção de ajustamento, para a qual cada um de nós se adapta a essa nova realidade, através de mecanismos inconscientes da personalidade.
É que o se tem passado comigo. Nestes dias que passaram, tenho-me tentado adaptar à nova vida em que estou, ao novo local de trabalho, a novos métodos e abordagens. E os primeiros dias foram mesmo de uma grande ansiedade, por me sentir desorientado, perdido e não pouco frequentes são as comparações com o passado não muito distante. Mas ainda assim, tenho tentado sobreviver a tudo isso, assimilando rapidamente o que de novo tenho adquirido, para ser mais fácil seguir de novo com confiança neste novo caminho que percorro.

"Para cada acção há sempre uma reacção oposta e de igual intensidade."
Terceira lei de Newton

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Vanitas vanitatum et omnia vanita

Que aspecto estranho têm as pessoas que trabalham no hospital de Viseu. Andam como se não houvesse pedras na calçada, de nariz bem levantado, sem receio de tropeçar em algo maior que a sua miserável existência.
Não gostei da primeira impressão, e espero que seja isso mesmo, uma primeira impressão, excepções a uma qualquer regra de humildade e realismo de não se ser maior que qualquer outra pessoa, não se ser maior que os doentes que vemos diariamente, que o padeiro que todos os dias lhes faz o pão ou o agricultor que o faz crescer.
Somos todos fundamentais e importantes, e de nada serve andar-se todo emproado, de rabo a abanar, só porque se trabalha num local onde pessoas procuram com angústia ajuda de pessoas como elas e não de semi-Deuses que desejavam ainda assim ter domínio sobre essas almas.

Fiquei triste ao não me rever numa abordagem assim, à profissão, à vida.

Tudo é vaidade.

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Balanço

Não sei porque o fazemos, nem que razões invocamos no subconsciente para o fazer. Mas quando se acaba um ciclo na nossa vida, seja um ano que passou, uma mudança de carreira profissional, uma alteração na vida pessoal, temos a tendência intrínseca para lembrar esse período de tempo em jeito de balanço final de contas.

O estranho que me aconteceu nesta minha avaliação destes 7 anos passados de vida alfacinha, foi que os últimos três meses me fizeram esquecer os restantes de uma permanência agitada.
Queria lembrar-me das lutas diárias no meio de tanta confusão, do meu primeiro dia no meio de "mouros", das vitórias académicas que acabei por conseguir, dos desamores por que lutei, conquistei, perdi, de todas as alegrias e tristezas que marcaram este tempo... No entanto, tudo isso me parece irrelevante, banalidades, e guardo só com saudade essas memórias que me fizeram sorrir, e que após ter feito uma escolha que mudou por completo o rumo da minha vida, me fez perceber se não seria um erro que estaria a fazer. Até então, tudo era a certeza da minha saída de Lisboa, de que o meu futuro imediato não passaria por ali, por essas ruas de um caos urbanístico que me custou sempre compreender, por uma cidade com falta de humanismo, de liberdade, de sentido. Mas, como manobra do destino que cria dúvidas constantes na mente humana, assim feita a escolha, assim se criou em mim mais um "se" de uma vida por Lisboa, e ainda assim continuar a ser imensamente feliz, ou ainda mais. Vou partir. Este é o último dia por aqui. Amanhã estarei num outro local, num revés de medalha, em que estarei agora por lá mas com o coração por cá. Sei que o tempo irá deixar as suas marcas, e quem sabe num futuro mais ou menos distante, me veja novamente num outro local, para então recomeçar novamente tudo de novo.

A história não se escreve de "e se...".

sábado, janeiro 26, 2008

A acabar...

Com a minha permanência na margem do Tejo, a título definitivo pelo menos nos tempos mais próximos, a acabar, decidi ficar o fim-de-semana por Lisboa, e esperar pela visita dos meus pais!
E foi incrível ter de esperar pelos últimos dias, para ainda assim me surpreender com alguns dos cantinhos que Lisboa tem de beleza única... Perdido que andava para sair da rua das janelas verdes em direcção à doca de Santos, fomos encontrar o Palácio das Necessidades, belo, sobre uma encosta de onde se avista o rio, banhado de prata com a luz radiante de uma tarde de sol primaveril.
E como este local de extrema beleza, outros visitei neste dia, que até mesmo pela sua simples beleza, me fizeram guardar como uma estranha saudade futura de sentimento misto, desses 7 anos de permanência na capital, para daí a pouco rumar à província de um Portugal profundo que quero redescobrir.
E terei sempre a oportunidade de a revisitar e olhar para ela, não pelo caos do dia-a-dia, mas pela beleza desses seus pormenores que tanto me impressionaram!

Virei um dia, para te rever...

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Internista de serviço

Olha a sorte... Tenho muito orgulho no que me quero tornar! E este foi mais um desses momentos.
Metido por obrigação a fazer tempo dito de espera, para iniciar funções como aprendiz de Internista num outro hospital, vi-me confrontado com a necessidade de ser mais que "obstetra" numa enfermaria de puérperas, a pedido do Sr Director.
Um dos maiores e mais bonitos desafios da Medicina Interna, que cria séries de televisão e tudo, é a síndrome febril indeterminado. E sem pudores de falsas modéstias ou equivalentes de personalidade, foi com alegria que me vi com todo o espírito que deve dominar um internista e fazer uma investigação à cabeceira da doente e observá-la como o todo que é.
Qual febre escaro-nodular, qual leptospirose... Pensa assim quem não está já há longos anos dentro do que é frequente, ou possa ser orientado por uma história clínica bem dirigida. Sim porque para a Medicina Interna, a verdadeira, e não a de televisão ou de alta tecnologia, é na anamnese e exame objectivo que se encontram as respostas para um enigma que inicialmente possa ser desafiante. E no final de contas era uma simples e inócua faringite!

O todo é muito mais que a soma das suas partes.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Oh Chefe!

Faz-me sentir como um cozinheiro, ou como uma pessoa que vai a circular na rua e é abordado por alguém dentro de um carro, procurando informações... Não gosto nada da expressão, "Oh Chefe!", principalmente quando o destinatário da interpelação sou eu próprio.
A verdade é que desde há muito me chamam assim, a mim que nada tenho de líder, que não me vejo, nem verei, como chefe de nada nem ninguém. Podia fazer remontar a indisposição com esta terminologia ao longínquo ano da graça do nosso senhor de mil novecentos e carqueja, em que comecei a assumir de forma algo estúpida e irreflectida funções que nada tinham a ver com a minha forma de ser. Como é que alguém tímido poderia fazer-se afirmar em "confronto" com outros?
O que eu penso, das minhas deduções fenomenais e vazias da realidade, é que a minha postura alta e espadaúda (pois está bem, está-se mesmo a ver!), me transforma de forma natural numa imagem que não sou... de um chefe.
E todos estes pesadelos teimam em reaparecer ano após ano, mês após mês, e até agora no trabalho onde estou, onde na falta de seniores, fui designado e mesmo imposto, pelos meus pares, como "autoridade" pouco autoritária de coordenação e orientação terapêutica e diagnóstica, numa área que pouco ou nada domino da Obstetrícia.

Nem de mim sou, quanto mais de outros...

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Sorte a mudar... amor a acabar

Que coisa estranha me foi acontecer! Imbuído no espírito das tarefas a fazer antes de sair de Lisboa, lá fui eu descobrir o vício do jogo e partir até ao Estoril para "investir" umas coroas...
Sou daquelas pessoas que nunca ganhou nada... melhor, uma vez há uns 7 anos, fui galardoado com uma bebida espirituosa numa dessas rifas de festa popular! E mesmo nessa altura, com esse prémio, nem sei se acabou por ser sorte, dado o meu estado abstémico que sou. Antes viesse o presuntinho do primeiro prémio, mas seria exigir muito da sorte!
Mas desta vez não me pude queixar! Primeira vez de investimentos num casino, sorte grande a rolar. Quer dizer, grande grande não foi... Que se afastem os oportunistas e amigos de conveniência, porque o rappel total do investimento foi só de 57 euros! Se não fosse o aborrecimento que foi "puxar" um par de vezes a manivela para fazer rodar a slot machine, e pela qual me custa compreender como se consegue ficar colado horas a uma máquina destas, teria continuado a jogar, quem sabe até perder por completo o lucro.
E porquê agora esta sorte? Se fosse pela voz sábia do povo, tão conhecedor da experiência da vida, seria pela pouca sorte que tenho ao amor... E sem querer entrar muito nesse domínio das forças que descobri não controlar, talvez eu seja a prova científica que falta ao empirismo popular. De facto sinto que estou tão perto da felicidade, mas com noção de que acabará em breve, e que o infortúnio, o azar, a má sorte se abaterá sobre mim.
Ao menos que me saia na sorte o Euromilhões para justificar a tão falta da mesma no domínio afectivo.

É melhor que investir em bolsa. Só é preciso sorte...