quinta-feira, abril 20, 2006

Porquê escolher a Morte?

Devo confessar que me tornei um pouco viciado em Blogs. Passei de um cepticismo quase violento relativamente à dependência da Internet, para um abrir de novas oportunidades para expor (se calhar só para mim próprio) alguns dos pensamentos que todas as noites antes de deitar vagueiam pela minha mente.

Foi por ter estado em contacto próximo com doentes terminais, numa breve passagem por uma Unidade de Cuidados Paliativos que reflecti sobre este assunto, Eutanásia - Porquê escolher a Morte?
Se na vida de cada um há momentos de pura espiritualidade, estes foram alguns deles. Enquanto cidadãos comuns, sujeitos às leis da vida (e dos seus infortunios), pensamos que o principal factor de pedido de eutanásia, advém da dor física, mas num trabalho de W. Breithart, verificou-se que esta só representa 5% dos pedidos. Os restantes 95% são por outras razões. Então porque deseja um doente terminal, ou com doença incurável morrer? Por se sentir abandonado pela vida, pela sorte, por Deus (ou outra entidade)?...

É aqui que entram os cuidados paliativos. Num centro com cuidados paliativos, normalmente não há pedidos de eutanásia. Esta situação deve-se sobretudo, porque o doente passa a ser o centro de uma abordagem holística, que proporciona ao doente a prestação de cuidados até ao fim, acompanhando-o passo a passo pela sua "caminhada de morte" (etapas preconizadas por Elisabeth Küller Ross), de forma a atingir o sentimento final de que cumpriu o seu objectivo de vida, para que na fase agónica, a possa encarar com a máxima serenidade. Não se trata de Distanásia (prolongar a vida a qualquer custo), mas sim de ajudar o doente a encontrar caminhos para que mesmo na última fase da sua vida possa dar algo de si, da sua experiência que fique para a eternidade, e é esse sentimento que devemos alimentar no doente terminal. É assim que eu concebo a vida: há muito mais a dar que a receber.
E para aqueles que pensam que cuidados paliativos (que é por natureza o antagonismo de eutanásia), é uma forma de aumentar o sofrimento de um moribundo, eu respondo, mesmo parecendo filosofia barata: o sofrimento é parte da vida, sem o qual não a concebemos (mesmo no amor sofremos). Não quero dizer com isto que devemos suportar, ou mesmo procurar o sofrimento, de forma resignada, mas transformá-lo numa oportunidade para aprender-mos com nós próprios e com a vida e mesmo crescer interiormente.

Mas sobre espiritualidade falarei numa outra conversa...

Obrigado Helena Aitken e Maria José Palma

"Não somos Imortais, mas somos Eternos"

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