domingo, dezembro 30, 2007

...há ir e voltar...

Valeu a pena as cerca de 11 horas sentado num carro para um "há ir e voltar" de 2 dias para um reencontro há muito planeado e esperado. A causa justificava em muito o esforço suplementar de energia dispendida! A aproveitar os anos da Maggie, decidiu-se festejar a partida da Inês e da Sofia para as colónias ultramarinas dos Açores e Madeira, respectivamente, para uns curtos anos de sacrifício pela especialidade pretendida...

O dia começou com a partida até à Aveiro, onde tal comboio regional se fez apeadeiro para uma romaria algarvia. Aproveitámos, os mais preguiçosos, para umas compras de última hora, mas como a escolha foi feita por três homens, a pouca originalidade de um perfume acabou por prevalecer a algo mais digno de uma prenda de anos a uma senhora.
Com a chegada da Inês partimos finalmente rumo à segunda estação da linha traçada, Leiria, onde nos esperava a Sofia (ou melhor onde esperámos a Sofia), quinta tripulante do comboio que agora se encontrava repleto. E como o tempo urgia, decidimos pôr um pouco mais de carvão na fornalha e seguir a todo o vapor até ao destino final. Não sem antes assinalar a passagem com uma forte buzinadela, junto a Castro Verde, a elegante linha fronteiriça que separa Portugal dos "Algarves" (ou será AllGarve?!), esse país estranho para lá do caldeirão, onde a língua é muitas vezes outra que não a portuguesa.
E passados os campos de Ourique, onde o próprio Afonso, Rei de Portugal, mas não dos Algarves, se debateu, chegámos por fim ao destino, não sem outra das, muito típicas, peripécias do Sebastião, que embaraçou toda a comitiva. Convicto do rumo a tomar, sem a ajuda das modernices do GPS, lá íamos nós em direcção a Alface e Bordaleira, perdidos em parte incerta, tão perto que estávamos de Santa Bárbara de Nexe. E foi mesmo com a ajuda de Santa Bárbara "bendita, que lá no céu está escrita", que nos encontrámos, porque telemóvel é coisa que não funciona por aquelas bandas, e assim "achámos" a Casa das Pedras!

Foi chegar, cumprimentar e comer! E que bem que soube após uma desgastante viagem de norte a sul!
Feito o desjejum, cozinhando cada um a própria ceia, lá iniciámos por fim a verdadeira razão da viagem. O convívio entre todos nós que partilhámos tanto durante 6 anos de um curso tão longo. E como foi bom recordar outros momentos passados juntos, recordações que se arrastaram por toda a noite e que fez que o dia seguinte só começasse para alguns a meio do dia. E como ir ao AllGarve e não ver o mar, é como ir a Roma e não ver o Papa, antes do almoço, que acabou por ser só por volta das 16h, fomos apreciar a grandiosa pacificidade do mar quente que convidava a uma imersão, tal banho de São Silvestre, para entrar no novo ano. Mas longe das loucuras de outros tempos, talvez pela falta de ópio, regressámos ao quartel general para a dita refeição e para mais umas longas horas de amizade familiar, de verdadeiros irmãos, porque infelizmente 48 horas passam a correr.

E na manhã seguinte, lá deixámos para trás os que por lá ficaram, e voltámos os restantes a Aveiro, agora 4, para me encontrar, depois, ansiosamente à espera de notícias de quem esteve tão perto, mas não pude alcançar...

Estaremos sempre todos juntos dentro do meu coração!

terça-feira, dezembro 25, 2007

Voto de Natal

Recebi há uns dias um e-mail com um simpático voto de um amigo, que faço meu também!
Beijinhos ou Abraços a quem por aqui me vem visitar...

Boas Festas!

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Obstetra

E pensar eu que estava de férias, que tinha deixado para trás a minha existência a prazo como Obstetra, quando em pleno dia de Consoada, em que se celebra o nascimento e a vida, sou chamado para presenciar o parto de leitões na casa dos meus tios, o local da ceia.
Felizmente a natureza sabe bem como as coisas se fazem e não foi necessário nenhuma manobra extraordinária, como aquelas que desconheceria fazer, mas que a parteira de serviço conhecia desde há longa data, dos inúmeros partos que já fez.
E para completar o ano, onde o número 7 me perseguiu, em determinados momentos com incrível crueldade, também hoje foram 7 os leitões que a porca pariu, e que em pouco tempo já se encontravam na demanda do seu sustento, no mamar com a serenidade e cansaço de uma mãe-porca, que ultrapassara por tanto por estes pequenotes.

7 leitões com dois dias, já cheios de vida!

O nascimento é a maior maravilha do mundo.

domingo, dezembro 23, 2007

Prenda de Natal

Nos tempos em que as finanças próprias escasseavam, e onde as ofertas eram de ordem proporcional ao fundo de maneio, era de prática comum fazer acompanhar a prenda com um cartão onde rasurava umas palavras, que eu dizia sempre se tratar da verdadeira prenda, uma espécie de alma que se dava a um objecto inanimado.
Mas, com muita infelicidade, com o avolumar de ofertas, o tempo escasso e a pouca vontade, tornou-se quase missão impossível ter tanto dom de "animar" tanta prenda. Ainda assim, para dar um toque singular, decidi acrescentar a cada uma das prendas uma lotaria instantânea, a vulgar raspadinha numa tentativa de proporcionar alguma originalidade a uma acção que desde há muito tempo perdeu o seu significado, desde que nos tornámos exclusivamente materialistas.
E mais uma vez, lá pedi à minha irmã para me fazer umas comprinhas... Duas dezenas de raspadinhas, que se forem premiadas me tornarão de certo mais feliz que aos felizes contemplados. Mas se por acaso não houver prémio algum, como pouco afamada profecia do próprio vendedor, sempre fica a restante prenda como consolação.

Feliz Natal, cheio de sorte!

sábado, dezembro 22, 2007

Conhecer

Que agradável a visita de um grande amigo e colega que vem para, juntamente comigo, "dominar" por completo o Hospital de São Teotónio e a Medicina portuguesa.
Não conhecia Viseu de todo e mesmo assim, foi louco o suficiente em escolher este hospital como local de formação complementar de especialidade. E lá servi, para grande prazer meu de cicerone por esta linda cidade jardim, nesta sua visitação para dar a conhecer, num curto espaço de tempo, a pequena mas mui nobre capital da Beira Alta, incluindo uma breve passagem pelo hospital, onde deu para ver as muitas falhas que um hospital pode ter. Mas isso é assunto para outra conversa!
Entretanto vou desde já avisando, para que ninguém seja apanhado desprevenido, que se cuidem as enfermeiras, as enfermarias, os doentes, porque viemos para arrasar!

Sejam sempre Bem-vindos!

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Desespero

Este ano como o primeiro em que alcancei a independência financeira, decidi de forma muito pouco original e pouco cristã prendar os familiares e amigos mais próximos com algo de material, que simbolizasse a entrega do espírito natalício.
E para que não tivesse grandes problemas em pensar o que comprar, decidi na minha ingénua ignorância elevar o orçamento individual de cada uma das prendas. Mas como estava enganado... É que há coisas que o dinheiro não consegue comprar, como a paciência de andar às compras em locais apinhados de pessoas e a ausência do desespero de não conseguir encontrar o que se pretende.
Ainda deleguei algumas funções na minha irmã, que acabou por ter muito do trabalho que a mim me competia, mas os poucos e decisivos momentos em que tive de ser eu próprio a enfrentar o horror das compras foram como ter de ultrapassar pelo Inferno e ficar a desesperar pela hora da libertação de tão pesada encomenda.

Ainda bem que não é Natal quando o Homem quiser!

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Ena! Tantos!!

Não me recordava que viessem tantos visitantes diariamente ao meu humilde cantinho "bloguístico". No início era o verbo... Não. No início era eu que me visitava e revisitava vezes sem conta, fazendo subir diariamente o contador um ou dois números. Eu e mais um par de visitantes que me acompanhavam nesta visita, entre eles o meu irmão e amigos próximos.
Mas parece que desde há uns tempos tudo mudou... Não sei porquê? A escrita ficou pior, o conteúdo uma miséria, tudo mudou para pior, e os visitantes são mais. Não conheço a maior parte. Consigo lembrar-me de um punhado deles, mas que mesmo assim são demasiado poucos para fazer subir os números, não sendo em si uma amostra representativa dos visitantes diários. Não estou ao nível dos blogs de pornografia, nem mesmo dos de comédia, mas para mim, mais de 10 visitantes diários é um recorde que devia figurar nas primeiras páginas do livro guiness de 2007.
E sei lá eu, se os maiores receios da minha mãe, também ela, uma visitante do meu blog, e que me obriga à publicação em massa para lhe esconder os meus sentimentos, se confirmam? "Vê lá se descobrem quem tu és e vais preso...", referindo-se às críticas sociais e políticas que ocasionalmente aqui exponho como minha opinião.
Mas, como não posso dizer... Senhores delegados políticos, façam o favor de se retirar, vou continuar a escrever o que me vai na alma, pessoal ou para o colectivo, expondo-me sem receios e ao que sinto porque, como noutras ocasiões tive já a oportunidade de escrever, sou um livro empoeirado, enfiado numa estante escondida, à espera de ser lido, por quem tenha necessidade de um ansiolítico natural e queira adormecer rapidamente. E atenção a quem vai conduzir ou manobrar máquinas... Não me deve "consumir" até uma hora antes!
Como diria o grande Zeca...

"...Seja bem-vindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também..."
In "traz outro amigo também" de José Afonso

terça-feira, dezembro 18, 2007

Porque fiquei

Já nem me canso de ouvir sempre a mesma questão, do interrogatório habitual de quem tem dificuldade em compreender porque um jovem de Viseu optou por permanecer mais um ano em Lisboa, conhecendo a sua imensa vontade de regresso. Se no início não teria dificuldades em conhecer as razões da complicada opção, ao longo deste ano acabei por esquecer lentamente a verdadeira motivação. Talvez os amores ou desamores, a esperança de ver o meu irmão regressar, a oportunidade de trabalhar num grande centro clínico, ou talvez só por destino, tudo se transformou em meras desculpas para a confusão real que imperava nos meus pensamentos.
Mas no dia de hoje, se me perguntassem porque tinha ficado, responderia sem hesitação que a grande razão foi a pequena Leonor, que ao cair nos meus braços viu pela primeira vez a sua mãe, o mundo e despertou para a vida com uma enorme energia.
E se já tentei disfarçar a minha permanência a prazo com parvoíces, este guardarei para sempre como um dos maiores acontecimentos da minha vida!

Fiquei pela Leonor.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Fora do Tempo

Valeu a pena falar, ficar mais leve ao confessar o que sentia por ti, quase tudo o que me deixava louco neste silêncio, mesmo que já soubesses ou desconfiasses o que te ia dizer, sem que eu próprio conhecesse antecipadamente as palavras certas para o fazer.
E ainda assim, com tanta reflexão e dominado grandemente pelo meu egocentrismo, não sabia o que esperar. Talvez o desfecho que acabou por ter, porque afinal que poderia eu oferecer-te nesta fase de mudança da minha vida, além de instabilidade, insegurança, no fundo, uma incerteza de futuro onde acabaríamos ambos por sofrer.
Só lamento que esta partida do destino tenha sido fora do tempo, que se a fortuna me tivesse sorrido bem mais cedo, há 4 anos atrás, teria lutado por ti, teria se fosse preciso abdicado de tudo por ti, porque muito mais forte que há 7 anos, hoje, dominado por uma paixão sem limites e incontrolável, acredito com toda a convicção que resta em mim, que serias a pessoa a quem me poderia entregar e partilhar o resto da minha vida, dessa imortalidade oferecida aos mortais que amam seres divinos e inalcançáveis.

Mas acabou por ser melhor assim. Não alimentar em mim a esperança do não concretizável, desse amor impossível e guardar de ti só a amizade, o sorriso, o olhar, essa tua maravilhosa singularidade e desejar que sejas sempre feliz em todos os momentos da tua vida.

"Às vezes só não é o momento certo."
(sic) Meravigliosa Creatura

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Familiar

Dois meses e alguns dias deram para perceber a importância da Clínica Geral e Medicina Familiar e sobretudo do contacto privilegiado que um médico aqui tem com o doente, numa relação verdadeiramente familiar.
O médico de família é esse familiar mais ou menos próximo a quem se recorre na doença, na saúde, no pedir de conselhos sobre a vida pessoal, pública, jurídica, sentimental, com a distância por vezes necessária para a confidência e para uma ajuda imparcial, sem juízos de valor ou complexos.
Ao acabar a minha vida enquanto pequeno médico de família, numa curta estadia que tantas experiências trouxe a nível pessoal e profissional, recordo os momentos em que também aqui pude ajudar quem procurou ajuda, numa dinâmica completamente diferente da do hospital, mais próxima, ainda mais humana e que de igual forma me fez a cada momento sentir realizado na vida que tomei como minha.

Não esquecerei esta família.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Comunicar

Penso eu que tenho o dom da palavra, mas no momento da verdade, lá se vai a presença de espírito e surge a insegurança, o pouco controlo, enfim, a ignorância.
Foi-me pedido que integrado no meu estágio na Clínica Geral e Medicina Familiar fosse apresentado um tema de interesse clínico, para os restantes colegas do Centro de Saúde. Até aqui tudo bem. Nada de novo, entre journal club, revisões teóricas de doenças, novas terapêuticas, tudo já experimentei, com maior ou menor domínio da matéria. E desta vez, foi uma revisão sobre a introdução de Insulinoterapia num diabético do tipo 2. Não era à partida uma tarefa difícil, conhecia o tema, com algum domínio do assunto e com a devida preparação seria de certo uma apresentação fenomenal. Tinha inclusive feito uma espécie de guião, que li e reli até à exaustão, para acompanhar a informação disponível visualmente na apresentação, para que saísse um discurso fluente e sem os famosos momentos "ahh", bengalas de linguagem que me atormentam e perseguem.
Não resultou. A ansiedade criada até por uma apresentação em família, fez com que o discurso parecesse mais desconexo, com falhas, parecendo um ignorante no meu próprio trabalho... Mas lá passou com as palmadinhas finais nas costas de consolo e agradecimento, de uma plateia que era inicialmente só de médicos, mas que afinal se engrossou e passou a ser constituída também por enfermeiras que após terem conhecimento do tema se quiseram juntar e que me fizeram sentir julgado em demasia, por quem lida diariamente pelo ensino directo ao diabético.
Para a próxima tomo um ansiolítico!

terça-feira, dezembro 11, 2007

Frio

Chegou por fim o frio. Esse de Inverno que nos aquece por dentro, das roupas que nos mimam pelo seu aconchegante calor, e que nos faz querer ficar no saboroso quentinho caseiro, da cama pela manhã e da lareira pela tarde.
O frio que nos faz lembrar desde cedo o Natal, o convívio próximo dos que nos são próximos, com quem gostamos partilhar estes dias.
O frio que nos faz arrepender sair de casa para ir trabalhar, para as compras da época e que nos faz recordar quantos perecem perante a adversidade destes dias, sem condições para o ultrapassar.
O frio que nos vota à reflexão interior, ao bem-estar emocional e nos traz o calor da solução, da absolvição!

Adoro o quentinho do Inverno!

domingo, dezembro 09, 2007

Event Maker's

Portugal tornou-se num país daqueles que só servem para a diversão externa, um país organizador de eventos. Não que nos tire dignidade no bem receber quem vem de fora, mas tornámo-nos em autênticos vassalos das "super-potências" europeias e mundiais para os comes e bebes, escamoteados sob a forma de cimeiras, tratados e afins, que entre atrasos, viagens e jantaradas, nada decidem em concreto, só ideias muito vagas que ninguém cumprirá, numa brincadeira de políticos de três dias.
Desde 1998 que tem sido assim, senão desde antes, um constante pedir de esforços ao comum cidadão para o show off internacional, e para rejubilar-mos com os agradecimentos de hipocrisia dos restantes, por perceberem que somos tão bons na organização de festinhas, sem ter a mesma capacidade organizativa interna, no controlo da economia, da sociedade, de política.

Se houvesse o mesmo investimento interno...

sábado, dezembro 08, 2007

Acordei contigo

Que sensação estranha esta de acordar contigo, em sobressalto, como se antecipasse algo de mal que se passasse contigo. Dormia descansado, nada nos meus sonhos antecipava este evento, sonhava com o Porto cidade, naqueles sonhos que não têm explicação e de repente senti uma angústia, um verdadeiro ataque de pânico, que me acordou e me fez perceber que estava a sonhar contigo. Linda como sempre, a visão de um anjo brilhante de beleza infinita, junto a mim, numa partilha de afectos que não conseguia dominar.
E como me custou voltar a adormecer, contigo ali ao meu lado, sem querer, no entanto, voltar a abrir os olhos com receio de te perder para sempre nessa noite em que...
Foste o meu despertar.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Com antecedência

Devo ser como tantas outras pessoas, mas sinto-me como aquela que menos sorte tem no Mundo inteiro. Pergunto-me continuamente, que mal devo ter feito, para merecer tanto azar?
É incrível como nunca posso combinar nada com alguma antecedência, porque acaba sempre por correr tudo mal. O inesperado torna-se comum, o imprevisto o normal.
Chego mesmo a ter medo de combinar seja o que for, e deixar-me levar pelo vento da circunstância e do momento, para não ter que enfrentar a desilusão, a tristeza que se abate sobre mim, pelos projectos falhados, pelas expectativas frustradas e que se torna imensamente maior, quando sei com toda a certeza que há dentro de mim, que o que ficou por fazer me traria grande felicidade.
Será que tanto azar não acaba nunca?

terça-feira, dezembro 04, 2007

Autonomia

Não me via preparado, de forma tão súbita, para enfrentar a solidão do acto médico. Legalmente, sou mesmo obrigado a estar continuamente acompanhado em tudo o que faço, enquanto interno do ano comum. Mas a verdade, é que me tem sido imposta a necessidade de permanecer sozinho num consultório, independente, e ver doentes dos quais a grande maioria, desconheço o contexto social e familiar, factor de extrema importância em consulta de Medicina Geral e Familiar. Numa política do desenrasca muito típica à portuguesa, na falta da pessoa que me devia tutorar nesta fase de formação, por se encontrar doente, foi sugerido em "conselho plenário", no qual eu não tive voz, que para não haver maior prejuízo, seria eu próprio a herdar a difícil tarefa de ver os doentes. Na minha opinião não foi a decisão mais acertada. Não ficam por ser vistos... Mas até que ponto lhes presto um serviço de qualidade, lhes ofereço as melhores condições de saúde? Mas com isso ninguém se interessa. O que conta são os números.
Tem sido uma experiência no mínimo diferente e desafiadora, e se não fossem as várias vezes em que admito humildemente a ignorância em certos aspectos da clínica geral, muitos seriam as vozes de descontentamento, mais do que as que se ouviriam pelo facto de uma pessoa não ser de todo consultada.

Um médico não deveria adoecer...

sábado, dezembro 01, 2007

1640

Com que facilidade nos esquecemos do nosso passado, do passado colectivo, memória intemporal de uma sociedade. Para muitos, o 1 de Dezembro não passa de mais um feriado, uma folga do fastidioso trabalho e de uma grande chatice quando coincide com o fim-de-semana. Mas esquecermos desta maneira o passado, é esquecermos a nossa identidade nacional e mesmo a nossa própria identidade pessoal.
Foi em 1640, que valorosos portugueses se emanciparam de uma soberania espanhola, e reatribuíram a Portugal o seu desígnio de potência mundial que o tempo e a falta de coragem em momentos históricos acabariam por apagar. Tornaram-se naqueles que vieram a ser os melhores anos de Portugal, os que se seguiram, até às invasões francesas do século XIX, altura em que ideais republicanos se instalaram na sociedade, sob o falso disfarce de valores humanistas de progresso, minando por completo os valores de uma nação estável, na certeza de uma continuidade responsável, mas de grande respeito pela dignidade individual e de um povo.
Mas como o passado não se altera, resta esperar pelo regresso da razão e verdade, no repetir cíclico da história e da vida.

"Independência ou Morte!"
"grito do Ipiranga" - D. Pedro IV na proclamação de independência do Brasil em 1822

sexta-feira, novembro 30, 2007

Ninguém decide

Queremos continuamente controlar tudo o que está ao nosso alcance, todas as condicionantes, e mesmo aquelas que estão acima das nossas capacidades. Tentamos ser autênticos deuses e deusas do nosso mundo, e chegamos à vontade de poder controlar sobre a vida e a morte.

Na experiência que tenho, pouca por sinal, fui já confrontado, não raras vezes, pela interpelação de doentes ou familiares destes, para que me decidisse sobre uma sentença de morte anunciada com aviso de recepção, para a qual nunca soube, nem poderia dar resposta. Sempre senti nestes momentos, a vontade de poder dizer que a Medicina chegara a um ponto em que a capacidade técnica permite que ninguém mais morra por doenças, por tristeza, por desilusão. Que a hora exacta da morte, hora sobre a qual ninguém tem a capacidade de decidir, seria uma consequência inevitável a longo e saudável prazo de uma vida de qualidade, de prazer, cheia de frutos.

E no outro extremo da vida, onde ninguém decide sobre a vida, o que me dá mais gozo ver é as expectativas goradas, das tentativas de atribuir um dia de nascimento a uma criança. Não pouco frequentemente, eles teimam em nascer um pouco mais cedo ou mais tarde, escapando às decisões externas.
E mais uma vez aconteceu... Mais um priminho que nasceu, dias antes da sua prevista e desde cedo antecipada chegada, e que mesmo assim deixou os pais radiantes de alegria, porque no meio de tanta falta de domínio de variáveis nasceu com um sorriso para o mundo, preenchido de vitalidade e força para começar a enfrentar as lutas diárias de um mundo em que o controlo quase nunca está sob nós.

Muitas Felicidades para a vida que agora iniciaste!

quarta-feira, novembro 28, 2007

Palavras que magoam

Já a teoria da relatividade lhe fazia menção. Não há como mudar o passado. Mas podemos sempre aprender com os seus erros, mudar o presente e esperar que o futuro seja diferente.

palavras que podem acabar com uma amizade. Palavras que magoam, que afastam, que na paradoxal característica única da condição humana, não são de desagrado, mas aquelas em que com todo o sentimento, toda a entrega nos deixamos envolver pela emoção e dizer mais que aquilo que alguma vez queríamos, sonhámos, imaginámos.
E só o conforto de saber que a dor auto infligida pelo silêncio é menor do que aquela que as palavras podem causar, levam-nos continuamente a afastar as pessoas com as quais nos sentimos bem, com as quais gostamos de partilhar parte da nossa vida, para não termos que admitir que o que sentimos seria só suficiente para partilhar toda a nossa vida.

Nem sempre falar alivia...

segunda-feira, novembro 26, 2007

Diferente

Sinto-me diferente, mais leve, com menos pensamentos daqueles que por tantas ocasiões me desgastam e fazem ficar a moer horas a fio, para quase sempre chegar à infeliz conclusão de que nada valeu, tantos pensamentos, tantas reflexões, por situações menores que não mereciam o esforço.
Fez-me bem conversar, expurgar alguns dos demónios que me atormentavam, falar do que não pensava ser possível, com alguém que sofreu bastante enquanto ouvinte e que teve de aturar todas essas minhas lamentações, que após a partida do meu irmão se acumulavam de tal forma que parecia não me conter mais. E como bomba prestes a explodir, bastou um pouco de corda, para me abrir completamente, livro empoeirado, à muito fechado e que de repente se abre e revela os seus segredos, as suas alegrias e tristezas, a sua história inacabada pelas páginas finais deixadas em branco, de uma história que parece não ter fim.
Não costumo falar muito sobre mim, prefiro ouvir, e que prazer me traz a audição. Mas nestes dias encontrei alguém que não me é indiferente, mas que mal conheço, e que me faz sentir bem a partilhar, desde os pedaços mais simples do meu dia-a-dia até às questões que para mim são das mais transcendentais.

Dizes ter muitos defeitos, mas impaciência não é um deles!

sábado, novembro 24, 2007

Lareira

Como me sinto bem em Viseu, quando vou de fim-de-semana. O carinho dos meus pais, o conforto que me dão e a lareira acesa, os serões passados a contemplar o seu calor, a sua luz, a companhia. E eu lá vou agradecendo tanto aconchego, saindo de casa nos Sábados à noite.
Não sei como ainda me vão aturando e aos meus caprichos. Vou para os ver, sobretudo por eles e eles fazem tudo para que me sinta bem, na condição, muitas vezes, de seu "filho único", e dou por mim a trocá-los por uma noite ao frio, muitas vezes fútil, de uma felicidade efémera do momento.

Adoro-vos! E à lareira também...

sexta-feira, novembro 23, 2007

Felicidade

Não tenho sorte nenhuma no jogo, e então no amor, nem falo... Como se todo este tipo de azar se concentrasse numa só pessoa, tal martírio de Job, abatido sobre mim sem digna justiça.
Mas, também não posso dizer que a vida e a sorte me abandonaram por completo. Bem pelo contrário. Sinto que a vida até me tem sorrido de forma particular! Apesar das quedas que se vai tendo, benéficas na medida em que nos fazem perceber a emoção que é viver com obstáculos ultrapassáveis, tenho atingido muitos dos objectivos a que me propus.
Há uns dias era enorme o meu receio de não haver uma vaga para formação complementar em Medicina Interna no hospital que pretendia, o que se traduzia em mim numa enorme angústia, que se manteve até ao momento em que dei um salto de contentamento quando soube que não só havia mais que 2 ou 3 vagas, mas sim, 5 vagas. Fiquei, nesse dia com a certeza quase absoluta que uma delas tinha já o meu nome. Mas como a vontade de viver angustiado é superior à certeza de que tudo está bem, no dia anterior ao da escolha, senti o que nunca tinha sentido, em momento algum, mesmo em situações verdadeiramente problemáticas do passado. Uma crise de pânico que surgiu durante a noite e que me fez acordar de um sono que eu acreditava pacífico. De nada valeu, mais uma vez, tanta incerteza.
Lá entrei no queria, não desde sempre, mas para onde 6 anos de curso e um de Internato me mostrou de que seria o caminho que me traria a Felicidade e sobretudo no local onde desde há muito queria tomar como o meu cantinho.
"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho."
Mahatma Ghandhi

quinta-feira, novembro 15, 2007

7 anos

Ainda há algumas coisas que me espantam, mesmo contando com uma curta experiência cheia de vida... Tive uma percepção abrupta da a infinita pequenez do mundo.

Antes de rumar a Lisboa por obrigação, andei um ano a "passear os livros" por Coimbra, nos longínquos anos do senhor de 1999 e 2000. Recordo esse ano único, o de caloiro, não pelo o simples e inexplicável efeito estudificante que a cidade gera em cada um dos seus estudandos, mas saudosamente pelos amigos que por lá abandonei e que no dia de hoje recordei com alegria.
Mas se por outras vezes, a memória vem sem aviso prévio, visitante amiga de momentos mais serenos, desta vez, foi fruto de uma visitação do passado, não daquele mau que queremos para sempre esquecer, mas de um bom, que há muito não invocava. Por ironia do destino, ou simples coincidência, encontrei numa das consultas, uma pessoa amiga que conhecera enquanto coimbrinha. E se outrora, já me gabei pela minha imensa memória, desta vez foi castigo não ter logo reconhecido a sua expressão, o seu rosto, a sua singularidade, a sua beleza, que em momentos de regressão Conimbricense me acompanharam, consequência de um amor platónico alimentado sem sentido, como todo o sentido que faz a paixão ignorada, e sem nunca ter tido, muito menos, a coragem de me denunciar em tempo oportuno. Mas como o tempo tudo cura, até as feridas mais profundas, o afastamento pouco natural de 7 longos anos, fizeram-me esquecer, lamentavelmente, pedaços dessa minha existência. Não era no Tibete que tinha estado, mas a distância maior que qualquer outra, essa que se encontra entre Coimbra e Lisboa, distância cruel do tempo contado pela perda dos amigos, das pessoas de quem gostamos, das lembranças saborosas.
E se o fado que a todos nos guia fosse gentil, teria passado despercebido, silencioso e sem aviso. Mas fui reconhecido, por ela, mesmo quando pensava que eu não passava além de uma cara conhecida, dessas desconhecidas que diariamente se cruzam connosco. E ao ser contactado, longe do local do crime, local onde as memórias são mais fáceis de perceber, recordei por fim os traços do seu rosto que resistiam ao tempo, a sua expressão de uma verdadeira Castro, rainha e majestosa, e acima de tudo, o grande amigo comum que abandonei e que hoje recordo também com enorme e sofrível saudade.

E para não complicar as coisas, como os dois meses de convivência no passado, também quis a providência divina que, novamente agora, as pegadas do nosso caminho se apartassem em direcções distintas, numa outra fase de viragem da minha vida. Mas no fundo, não gostaria que as lembranças que nos fazem sorrir, só se materializassem em períodos tão longos, porque mesmo com toda a magia do número, 7 anos, é demasiado tempo.

"As coisas vulgares que há na vida

Não deixam saudades

Só as lembranças que doem

Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história

da história da gente

e outras de quem nem o nome

lembramos ouvir..."

in Chuva - Jorge Fernando

quarta-feira, novembro 14, 2007

A A's

Hoje estiveram no Centro de Saúde dois representantes da associação Alcoólicos Anónimos, os tão famosos AA. Não me provocaria nenhum interesse este tema, eu que sou um verdadeiro "copinho de leite", ao não consumir qualquer tipo de álcool, se não fosse uma expressão que fixei, dita por um deles, antigo alcoólico, e que presentemente após algumas recaídas ajuda outros a ultrapassarem esta forma de toxicodependência.

"Recordo a vida em flash’s"
Nunca outrora tinha reflectido sobre esta questão, mas uma pessoa alcoolizada, com as funções racionais diminuídas ou mesmo suprimidas, não tem capacidade de fixação dos momentos especiais, únicos na vida. O constante estado de embriaguez faz com que as pouquíssimas lembranças de situações vividas em fases minimamente lúcidas, pareçam imagens isoladas, retiradas do seu contexto, suprimindo-lhes qualquer tipo de significado especial, um quase anonimato de vida ao próprio.
Deve ser muito doloroso acabar no fim por ter a percepção da miséria que a condição humana pode suportar, sendo essa mesma ansiedade um risco em si, para retomar o consumo.

terça-feira, novembro 13, 2007

Ninguém diga que está bem...

Pensamos nós, enquanto médicos que podemos controlar a dor, a doença, a vida, e quando damos por nós sentimos dor, adoecemos e morremos como os restantes.
Foi com uma enorme surpresa que soube que um colega meu de curso e grande amigo adoeceu subitamente, de tal maneira que teve que ser submetido a uma intervenção cirúrgica de urgência. Uma simples apendicite, o mal do flanco, como era designado na idade média onde levava muitas almas, que surgiu como seria de esperar sem aviso prévio, atacando desta parte aquele que em circunstâncias normais deveria diagnosticá-la de imediato. E para provar que "em casa de ferreiro, espeto de pau", a negação foi levada até a um extremo em que poderia por mesmo em risco de vida, por nos acreditarmos como semideuses, imunes por natureza às mesmas leis que o comum mortal.
Mas no meio disto, há o seu quê de experiência que doutra forma não seria vivida... Uma das coisas das quais mais senti curiosidade em saber, porque nunca fui operado, foi saber de forma objectivamente descrita, qual a sensação que se tem durante a indução anestésica e o acto cirúrgico em si! E se estava à espera que me fosse dita uma resposta conclusiva, que me causasse espanto, foi grande a decepção ao saber que nem dois segundos bastaram para entrar num sono tão profundo, não-REM, impossibilitando o estado de vigilância da mente, que permitisse a "visão" de algum fenómeno ainda por descrever. Talvez tenha eu mesmo de ser sujeito a uma cirurgia, para avaliar por mão própria os seus efeitos!
As melhoras rápidas.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Navegadores

Que experiência fenomenal! Nunca cheguei sequer que pudesse ser possível vivenciar um tipo de experiência como esta em pleno território nacional. Exercer uma Medicina de um quase cenário de guerra, com condições mínimas, mas oferecendo tudo de corpo e alma, num país dito moderno como o nosso!
Numa actividade que visa melhorar as condições de acesso à saúde de populações carenciadas, fui com três enfermeiras, numa carrinha do programa "Saúde XXI", para o bairro dos Navegadores, prestar cuidados primários de saúde, desde saúde infantil, a planeamento familiar, passando por uma ou outra urgência que se possa resolver com o pouco que levamos. Foi engraçado ver que, onde mesmo as autoridades de segurança receiam entrar, somos recebidos em clima de festa, como um velho amigo que visita velhos conhecidos, sem em momento algum recear pela minha própria segurança.

E não podia estar mais adequado o nome deste bairro. Como verdadeiro gueto, com acesso único, onde foram colocados muitos dos realojados do concelho, pensei nestas gentes como autênticos navegadores quinhentistas, rejeitados da sociedade, condenados e loucos que partiam para a descoberta de um desconhecido mundo, à procura de uma vida melhor "além-mar" que lhes trouxesse glória, também estes novos excluídos se encontram à deriva num mar social procurando sem nunca perder a esperança por melhor vida.

E só o contacto humano, único, fez-me ansiar por voltar um outro dia, ou mesmo numa outra ocasião partir para outros países, onde este trabalho é tão preciso, onde por fim os navegadores do nosso tempo possam encontrar um "porto salvo" de abrigo com condições iguais aos demais.

Se não vai Maomé à montanha, vai a montanha a Maomé.
ditado popular

segunda-feira, outubro 29, 2007

Sinto falta

Sinto falta de alguma coisa, nada de material, físico, mas de algo que não tenho bem a noção do que se trata, que me alimente o espírito, que me aqueça a alma.
O facto de o meu irmão ter voltado a partir, afastar-se novamente, talvez ajude, mas sinceramente não sei se é dele que hoje sinto falta ou se de alguém com quem partilhar a minha vida. É um vazio que me mói por dentro, que me desgasta e que me faz pensar sobre o significado da minha existência sem alguém que me complete, com quem podia contar para estar ali nos momentos em que mais sinto falta de amor, de afecto.
Tem sido tão difícil ultrapassar-te, após tanto tempo de vivência a dois. Se ao menos compreendesse as razões pelo que tudo correu mal, talvez pudesse mudar. Não te pediria que o fizesses, mas só para te ter comigo, mudaria, poria mesmo em causa aquilo em que mais acreditava, abdicaria de tudo, só para te ter a meu lado. Mas sei que tudo isto é uma utopia, que não vai acontecer.

Hoje, sinto falta de ti...

quarta-feira, outubro 24, 2007

E os doentes?

Ando cansado da vida na Saúde Pública. Onde param os doentes? Onde está a razão principal pela qual optei por esta vida? Preciso de tudo isto, ainda movido pelo mesmo sentimento original, da escolha da medicina. Todos os dias são para mim uma contagem decrescente até ao dia em que voltarei a ser verdadeiramente útil, prestável, sentir novamente o prazer de poder ajudar.
Só não sei como é que os meus colegas, os técnicos de saúde e os administrativos aguentam, tendo em conta a fraca liderança deste serviço, por alguém que quer a todo o custo fazer-se respeitar, sem fazer o mínimo esforço de se dar ao respeito. Toda a sua falta de educação, arrogância, inércia e incompetência, vão deixando marcas nas relações interpessoais, que em determinado momento causarão uma ruptura completa. Só espero que na altura, as boas pessoas do serviço possam ultrapassar esses tempos difíceis que mais tarde ou mais cedo virão, na perspectiva que todo este tempo não foi mais que um pesadelo que teimava em não desaparecer.

Medicina sem doentes, não obrigado.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Novo regresso

Voltaste meu irmão. E que saudades já tinha eu de ti, das nossas conversas, do nosso partilhar de dia-a-dia, da continuidade que representas para mim.

Mas voltaste com a cabeça em Munique... Eu compreendo-te e apoio-te, mas não sem sentir alguma "revolta" e egoísmo interior por te querer perto de mim, mesmo que infeliz, em vez da felicidade que alcançaste lá fora. Nunca serei capaz de com todo o meu amor fazer esquecer o que alcançaste, com luta própria e que por isso mesmo dás maior valor.
Sim, é este sentimento que me domina, um egoísmo centrado em mim, no meu bem-estar, descurando os teus sentimentos e necessidades. Mas o que sinto, é porque te adoro, mais do que a mim mesmo, como se precisasse mais de ti do que eu próprio preciso de mim.
Mas durante uma semana serás português, e aproveitaremos todos os momentos para esquecer a saudade.

Ficarei para sempre à espera do dia em que não terás que partir mais!

domingo, outubro 14, 2007

Que Políticas

Foi eleito um novo líder para o partido que actualmente se encontra na oposição. Oposição hoje, governo amanhã. Tem sido assim desde há uns trinta e poucos anos, como um brincar às cadeirinhas constante. E será que alguma coisa vai mudar mesmo? Penso que não. Assistiremos a mais do mesmo, luta de galos, acusações mútuas para mais tarde num silêncio incómodo, se acomodarem nos tachos aquando no governo.
E o que mais incomoda é que vilões de outros tempos se transformam em autênticos heróis de salvação nacional e heróis de outrora facilmente são esquecidos na sombra do passar dos tempos. Desde o 25 de Abril de 1974 que são sempre os mesmos a ocupar, numa rotatividade pouco saudável, lugares de responsabilidade civil, que mais do que políticos, precisavam de verdadeiros gestores e conhecedores das matérias fundamentais de sustentabilidade do nosso país, que só pela decisão acertada de não optarem por uma filiação partidária são ignorados por completo.

Fico com esperança que a política mude, uma vez que os políticos são os mesmos.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Flirt

Parece que nos últimos tempos iniciei uma nova fase da minha vida, mais holiwoodesca, em que o conhecer de novas pessoas passou a ser quase um estilo de vida, num rodopiar de flirt’s, sem grande preocupação com um futuro incerto. E por isso deixei-me envolver por um convite de uma prima para conhecer uma pessoa que na sua opinião seria "ideal para mim, fazia o meu género".
E que género será esse, neste momento em que me sinto um perfeito parvalhão, num brincar de sentimentos, que me têm trazido grande angústia, mesmo que de forma dissimulada, por saber que não sou assim. Não me reconheço nesta condição, superficial, sem grandes ligações afectivas, sem me envolver em pleno numa relação. Ainda mais quando algumas destas experiências parecem tiradas de uma novela de adolescentes...
E numa ligeireza levada ao extremo, torna-se fácil confundir e ser confundido num confuso jogo em que mesmo só as palavras podem magoar como verdadeiras armas, deixando-nos encantar e mesmo seduzir por banalidades, num estado ébrio onde a realidade quase sempre parece adulterada.

Para não a magoar, não faz o meu género.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Confiança traída

Há momentos na vida em que sentíamos a necessidade de voltar atrás e refazer tudo de forma diferente. É como me sinto no dia de hoje. Sinto que traí a confiança de um grande amigo...
Na minha incessante vontade de querer ajudar, acabei por precipitar situações que acabaram por ficar sem controlo e que podem ter deitado a perder definitivamente uma óptima solução! Sinto que falei demais, que prestei maus conselhos, que brinquei ao interpretar de forma errada sentimentos de terceiras pessoas e que me refugiei na confortável posição de outsider, levando a um desencadear de eventos, que trouxeram grande sofrimento. Por tudo isso, te peço...
Desculpa

sábado, outubro 06, 2007

Há quanto tempo...

Há quanto tempo não estávamos todos juntos! Esse núcleo duro que virá certamente um dia a ser a nata da Medicina mundial e quem sabe portuguesa!
Deixámo-nos de desculpas... de trabalho, de comodismo, de qualquer espécie de complexo, para decidir em cima da hora um dia de convívio no território neutro de Aveiro, para que não ficasse o travo amargo de favorecimento pessoal em detrimento do colectivo, sob o lema "Há quanto tempo não te via!". E como foi bom o reencontro, com um almoço como desculpa para recordar velhas histórias e relatar novas aventuras.
Soube a pouco o dia passado, mas deu para perceber algumas mudanças, no pouco tempo que passou.

Tu, Mr M, adquiriste nova postura na saudável ausência do grupo, de liderança dessa tua forte personalidade que até então se encontrava escondida pelo descarregar de tomada de decisões no "chefe". Mr E, foi agradável rever aquele que se transformou no melhor amigo de curso e a seguir ao meu irmão, o melhor na vida... Manténs as inseguranças, na certeza que um dia serás o maior de todos nós, pela enorme capacidade de juízo clínico bem como pelas capacidades humanas. Mr Z, muito caminho a percorrer ainda, mais aberto a novos horizontes, com a necessidade que falta de negares velhos costumes enraizados numa cultura médica decadente e passada.

E no final desta leitura de horóscopo, restava-me apenas desejar novos encontros aproveitando oportunidades de conhecer o "lugar" de cada um de nós, e se possível com crescimento populacional, tal reunião de família periódica que ao longo dos anos se avoluma!
Um abraço aos meus amigos não de sempre, mas que ficarão para sempre!

sexta-feira, outubro 05, 2007

Morning

De luto... Um luto de 93 anos, por uma revolução que trouxe mais miséria a Portugal. Pensando bem, que ganhou Portugal com a República? Nada. Só corrupção, instabilidade, não só política mas também económica, social e de valores.
Por tudo isto, este dia é para mim um dia de luto, em que recordo a morte de Portugal, esse que era maior do que as suas fronteiras, do que as suas gentes. E como um mal nunca vem só, no lugar deste surgiu uma espécie de país decadente, cheio de vícios e podridão.

É altura de voltar a acreditar.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Para breve os posts de Outubro e um há muito esperado lifting ao blog!

"Let me entertain you"
music by Robbie Williams

sexta-feira, setembro 28, 2007

Bem receber

Não é o povo português na sua globalidade que exerce tão bem a arte de bem receber... São mais exactamente os minhotos! Povo único, alegre, sempre disposto a oferecer a quem chega o que tem e mesmo o que não tem, só para conforto do seu hóspede e lá acabei também eu por passar uma noite no condado Portucalense. Agraciado pela recepção sempre calorosa, e pelo aroma alcoolizante do vinho verde, decidi ficar. Vinha preparado para tudo. Ficar ou partir nessa mesma noite, não fosse a minha mãe a preocupação personificada e me ter obrigado a pôr mais do que a vontade de partir no saco! Mas valeu a pena.
Conhecer tão agradáveis e simpáticas pessoas e absorver por uma noite que fosse um pouco do ar que deu tanta inteligência e personalidade ao meu "irmão". Senti-me com forças para permanecer toda a noite a ler os seus livros, tão cuidadosamente estimados e ordeiramente colocados na estante. Mas tinha de descansar. Queria causar o menor incómodo possível, o que me fez passar a noite toda em cima da coberta da cama, só para não desmanchar o que essa tão simpática senhora homónima da Professora de Farmacologia, tinha árdua e diariamente feito. E que frio senti no abrir da aurora, mas que me fez despertar, para a viagem de regresso.
Ainda ofereceram gentilmente a este peregrino pouco merecedor um "caldo de pedra", para que partisse com o estômago aconchegado, na viagem de regresso.
Quando quiserem visitar as Beiras, receber-vos-emos de braços abertos e com um tecto humilde ao vosso dispor.

Muito obrigado por tudo!

quinta-feira, setembro 27, 2007

Revisitar

Que excelente pretexto! Aproveitei a ida do Sporting a Guimarães pela ocasião da recém criada taça da Liga, para revisitar velhos e bons amigos!
Foi tudo mais ou menos combinado de antecedência, mas com o seu quê de improviso do momento, factor preponderante para que esta minha viagem corresse bem... Pois sei perfeitamente que comigo e com os meus planos, tudo o que é feito com muita antecedência nunca corre pelo melhor, ou acaba em muitas circunstância por não acontecer.

E então lá fui eu... À descoberta do conhecido, e passar em primeiro lugar por Santa Maria da Feira, ou mais exactamente por uma freguesia próxima, para revisitar um grande amigo, que por força do afastamento natural imposto por estudos, trabalho ou simplesmente pela vida, já não era visto e ouvido há "c'anos". E que agradável surpresa, vai ser pai! Quem diria que também este antigo seminarista teria uma vida conjugal e os seus frutos antes de muitos outros que nunca sequer ponderaram dedicar a sua vida a uma causa maior, a de servir a comunidade.
Como visita de médico que foi, não me pude ali demorar, onde fui tão bem recebido. E como teria sido bom ter ficado um dia ou dois para actualizar tantos dias de ausência. Mas parti... A cidade berço, essa que pela tradição lusitana diz ter visto nascer o grande D. Afonso Henriques e que se tornaria verdadeira pedra angular do patriotismo emergente, aguardava por mim.
E com mais uma das minhas peripécias! Com convicção plena na minha memória arrisquei e tentei encontrar uma rua que, dizem os que lá vivem, não é fácil de chegar à primeira! Mas com o milagre das comunicações sem fio, lá encontrei a terra de "Vera Cruz", o local onde aportei a minha embarcação, ponto de partida para uma noite de aventura. Não antes, sem reencontrar um enorme amigo... grande amigo seria dizer pouco. Um amigo que se tornou maior no paradoxal naturalismo da ausência. E como louco que sou, ou me tornei, decidi ir à batalha de São Mamede, ostentando as armas de uma facção distinta à do visitado! Mas com a coragem que nunca tive, lá fui, orgulhosamente acompanhado até ao estádio, rodeado pelo "inimigo", que não pouco frequentemente me olhava com ar ameaçador de quem agride violentamente alguém! Mas não fosse o meu ar de superior postura física, não sairia daquele local vivo. E ganhámos, mesmo que no final me tenha encolhido, enfiado o rabo entre as pernas e tentado passar o mais despercebido possível, não fosse algum dos peões ou cavaleiro contrário enfiar a sua espada, adaga ou o tão elegante pico no meu peito, que abriria, mesmo assim, ao embate, tal era a felicidade da vitória!

Acabei por pernoitar em terras minhotas, adocicado pelo aroma do início de fermentação do vinho que aqui é verde! Mas isto é tema de outra conversa...

Parti no dia seguinte, com o coração mais feliz, não pelo resultado do confronto futebolês, porque esse tipo de felicidade é fugaz, mas por numa só viagem ter feito a ligação entre dois amigos que estimo muito, aproveitar num dia no que em outras ocasiões seria impossível concretizar, pelo comodismo, inércia ou preguiça.

Quando voltei a Viseu... Nem um minuto descansei! Convocado para mais uma batalha, agora na condição de veterano, e continuar a vindima que se arrastaria por mais 4 longos e fastidiosos dias, mas que se passariam bem, pela motivação de dever e prazer cumprido!

Voltarei, se Deus quiser!

segunda-feira, setembro 24, 2007

Winery

Foi precisamente por todo o alvoroço desta época que tanto aprecio, que tirei alguns dias do trabalho que tanto adoro, a Medicina, para o trocar por um mais braçal, a Agricultura, e entrar na cadeia que leva à produção do líquido que alguns dizem vindo dos Deuses, mas que eu, em opinião própria abomino, nem mesmo pelas suas qualidades "terapêuticas" quando ingerido em quantidade moderada.
É a vindima que hoje recordo. Mais que uma necessidade, trabalho ou prática enóloga, é uma paixão andar na colheita do fruto e mais tarde participar no seu processamento. O prazer no pisar das uvas, as "cócegas" que faz, a alegria que dá ver todo este acto, faz-me pensar em mim um pouco como agricultor, mais próximo da terra, perto da fonte da vida. Como se aqui visse a criação de vida e o seu sustento e na Medicina uma forma de tratamento e manutenção da mesma. Como duas áreas que na sua essência mais filosófica se completassem.
E se tiver forças todos os anos terei uns dias disponíveis para este acto de amor, e quem sabe um dia com uma dedicação mais próxima desde o rebentar dos primeiros ramos, passando pelo acarinhar da videira ao longo do processo de evolução até à conclusão do processo que é a colocação do néctar nos pipos! Mas como se costuma dizer, embora noutras ocasiões...

Até ao lavar dos cestos é vindima!

quinta-feira, setembro 20, 2007

Autoridade de Saúde

Nunca pensei ter que voltar ao sacrifício que foi para mim a Saúde Pública na faculdade. Foi certamente um dos meus piores momentos enquanto estudante. Não pelo seu conteúdo, pelas suas áreas de intervenção, mas por um misto de experiências que me fizeram odiar esta suposta área médica.
Mas como as expectativas eram poucas, não posso dizer que fiquei desiludido por completo pelo reviver de situações. Mas apesar de tudo, tenho de admitir que sair do gabinete, entrar no terreno, para fazer vistorias, colheitas de análises e restante peritagem técnica com os técnicos de saúde ambiental, tem os seus momentos emocionantes. Certamente mais emocionante que ficar sentado, a passar cartas de condução, fazer contas para cálculo de incapacidades, ou simples e enfadonha estatística sobre problemas ultrapassados e com interesse nulo para o domínio da saúde pública.
Se não fosse o período de férias, quase obrigatório neste estágio, muito provavelmente passaria as passas do Algarve, como num enfrentar de stress pós-traumático, do trauma do tempo de estudante.
E após o regresso de férias serei só por alguns dias mais um dos representantes da autoridade de saúde local, com poder para fazer quase nada.

O pior é quando a autoridade passa a autoritarismo...

terça-feira, setembro 18, 2007

Filas

Foi preciso sair de Lisboa, para compreender finalmente o que as pessoas que todos os dias tentam entrar em Lisboa e o que os noticiários da manhã informam, relativamente às intermináveis filas que se formam. Digo tentar entrar, porque tamanho deve ser o desespero matinal, de muitos dos automobilistas e restantes ocupantes do veículo.
E como com o mal de uns estão outros bem, esta visão, reforçou mais a minha vontade de abandonar esta cidade infernal, e encontrar a paz que deve acordar connosco e acompanhar todo o dia, numa cidade mais calma, em que o trânsito seja a última das preocupações e não uma das mais importante.
No meio de tanto caos, há sempre uma luz de esperança, na minha ida agora diária até Oeiras vi, ao largo da costa daquilo que não sei bem se é Tejo ou Oceano Atlântico um enorme navio de cruzeiro, como que a anunciar o mais longo tempo de férias que se avizinhava desde o dia em que iniciei como trabalhador!

Agora entendo a ansiedade das pessoas...

segunda-feira, setembro 17, 2007

Tratar

Inicio hoje o estágio corresponde aos cuidados primários de saúde. E como não podia deixar de ser, as coisas têm um nome por uma razão de ser. Cuidados primários significa precisamente o contacto inicial que um doente, ou neste caso em particular o utente (palavra que não gosto de usar, mas que nos cuidados primários é a correcta), tem com a Medicina. Não uma medicina de doença, como aquela que idealmente se atende em meio hospitalar, mas uma medicina da saúde, assente na prevenção, no aconselhamento de medidas saudáveis, mas que em muitos casos se torna na ferramenta mais importante de articulação do doente, desde a sua concepção até à fase terminal da sua vida, num tratar "na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, nas alegrias e nas tristezas, até que a morte os separe". É esta proximidade que permite ao médico de família ser o principal e mais importante médico na vida de um utente, com responsabilidades muito mais significativas do que aquelas que por vezes assume, fruto muito provavelmente da falta de consciencialização da saúde por parte dos utentes, dos seus direitos e fundamentalmente dos seus deveres de promoção da saúde.
Espero tirar destes próximos dois meses muitas aprendizagens, que sirvam acima de tudo para entender o doente em todos os seus domínios, não só como portador de uma doença, mas no seu contexto social e familiar, porque apesar de tudo, acima de médicos somos essencialmente seres humanos... alguns de nós pelo menos!

Tratar a Saúde

sábado, setembro 15, 2007

Honra

Há muito tempo que não se via uma manifestação de tamanho Patriotismo. Uma lição de o que significa verdadeiramente a Honra, a percepção do que se faz pode ser pouco, mas que é feito com toda a , dedicação e confiança que no último momento todo esse empenho teve a sua recompensa, a satisfação de tarefa cumprida, enaltecendo os mais altos valores. Isso é Honra...
Falo precisamente da derrota da selecção de Rugby de Portugal contra a selecção da Nova Zelândia, mas mesmo assim, nunca uma derrota pareceu tanto como uma vitória. Uma vitória de David contra Golias, do espírito batalhador contra o consumar dos factos... E não fosse a sorte divina querer e teríamos surpreendido muito mais!
Mas no futuro, quando alguém quiser mostrar a um outro o que é ser português, o que é estar na vida com uma postura honrosa, cheia de valores, bons valores, teremos sempre as memórias colectivas deste dia como exemplo vivo!

Honra é fazer vencer os valores sobre a indiferença.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Cirurgia

A acabar aquele que poderá muito bem ser o último contacto enquanto cirurgião, levo um misto de sentimentos comigo. Conheci certamente óptimas pessoas, excelentes colegas, brilhantes cirurgiões, mas com algumas falhas enquanto médicos... É isto que percebi da cirurgia. Muitos dos colegas são excelentes no domínio da técnica cirúrgica, no manuseamento da peça e da abordagem intra-operatória. Mas possuem as suas falhas enquanto médicos, sobretudo na lide da terapêutica e não poucas vezes, na sua relação com o doente, que deve ser visto sempre como um ser humano individual e não uma "peça cirúrgica andante".
Mas nem tudo é mau. Conheci um excelente chefe de serviço, que me fez passar de uma postura de "não tenho grandes ambições de carreira", para uma outra completa distinta e mesmo oposta de "gostava de vir a ser um chefe de serviço assim". Por ser diferente dos outros, mais humano, mais médico e ainda assim grande cirurgião, pelo que me fez ver numa cirurgia que não é desligada da Medicina, que em muito invejava, mas sim uma sua irmã, que a completa, que se articula com esta para oferecer ao doente a melhor qualidade de vida. E vida, lições de vida, foi o que muitas vezes tirei das nossas conversas no cumprimento obrigatório de horário a que diariamente me sujeitavam!
Por tudo isto,

Muito Obrigado Dr Nogueira!

quinta-feira, setembro 13, 2007

Vivo isolado

Sinto que vivo isolado. Como uma insignificante ilha no meio de um tenebroso mar, distante, cada vez mais de um Continente habitado por pessoas que a cada dia me são mais estranhas. Cada dia que passa arrasto-me numa sobrevivência diária, continuamente a perder o apoio de quem tinha por perto, à espera do desejado tempo em que partirei para um outro sítio, mais familiar, onde me sinto melhor.
Em grande parte será culpa minha, provavelmente só culpa minha, mas o afastamento a que voto cada dia em Lisboa, é fruto de atitudes pouco sensatas, dignas até de pessoas que comigo partilham um pedaço da vida. E como as amo muito, como se fossem parte integrante de mim, não entro em "confronto", nem tento sequer dar o meu ponto de vista, fazer perceber a realidade... e daí a minha indiferença, o meu silêncio. Mas tenho andado muito desgostoso com toda esta situação, que me deixa profundamente isolado e com vontade, mais do que nunca de deixar Lisboa e vir para onde sou feliz, Viseu.

Sinto que caminho cada vez mais sozinho...

terça-feira, setembro 11, 2007

Voltaria atrás?

Por quantas vezes ficamos com aquele sentimento, sensação que nos consome aos poucos por dentro, do como seria se fizéssemos as coisas de maneira diferente. Não serei certamente o único. Mas hoje especialmente tenho-me confrontado com várias passagens da minha vida, em que podia ter seguido um caminho distinto, opções diferentes. Não sei porquê, até porque nem é um daqueles dias de profunda melancolia, em que parece todo o mundo abater-se aos nossos pés.
Mas como seria?... Estaria no mesmo lugar do "espaço vivencial" onde me encontro? Teria a mesma vida, os mesmos amigos, seria, sentiria da mesma maneira?
Tudo isto, perguntas que nunca obterei resposta, mas que sem sentido, ocupam os meus pensamentos, alimentam-nos de dúvida, de receio, mas que por outro lado lhes ofertam a capacidade única da ponderação, de decisão reflectida, para que cada degrau da escada da vida se dê numa aparente segurança, e para que na queda nos possamos sustentar, segurar aos poucos momentos de certeza, para avançar e reforçar a ideia de que o destino de cada um se vai construindo a cada dia, e que são muitas mais as incertezas que encontramos na frágil vida do que as certezas e que por isso cada momento deve ser vivido como o último, como se não houvera o amanhã, para ultrapassar as dúvidas do "e se...". E mesmo correndo o risco de banalizar...

Carpe Diem

segunda-feira, setembro 10, 2007

Hei-de...

Hei-de estudar até não conseguir mais. Não cederei à tentação do desleixo, do descuido da simples ignorância. Tentarei em cada dia, com a força que me for permitida lutar para conseguir a cada momento, estar a altura do problema, da situação, do doente. Nos últimos tempos, tenho-me deixado estagnar pelos conhecimentos adquiridos na faculdade, mas chegou a altura de avançar, seguir em frente e melhorar as minhas capacidades, os meus conhecimentos e dar aos doentes todas as oportunidades possíveis de cura, de solução, de esperança. Não me refugiar na estupidez da ignorância e estudar. Estudar até um ponto, em que todo esse conhecimento saia com tanta naturalidade quanto um acto de banalidade diária, como se toda a minha vida o tivesse feito, como parte integrante e estrutural de mim.
Não baixarei braços nunca, nunca me permitirei dizer não sei, desconheço, nunca tinha pensado nisso. Não desistirei de tratar, de curar, de proporcionar felicidade no acto da cura a quem por confiança por vezes cega, deposita em nós toda a sua esperança e mais do que isso, muito mais do que isso, a sua vida e alma.
Só preciso de renovar em mim, cada dia que passe, o sentimento de entrega incondicional por amor, dedicação, sacrifício ao doente.

Que tenha força para me fazer cumprir...

sexta-feira, setembro 07, 2007

Desterrado

Tanto tempo aprisionado, neste Tarrafal a que me votei, desterrado nesta triste terra de Olissipo, só porque cometi o crime "político" de a ter escolhido para abraçar o primeiro ano enquanto profissional, de uma nova forma de vida.
Tantas são as saudades que alimentei da serra, do cheiro a terra da lavoura, da brisa dos montes, das árvores, do canto animado dos pássaros que tanto adoro, que vivo cada dia desorientado, sem destino, nesta cidade de desgosto, tristeza e miséria.
E chegou finalmente, após tantos dias, o momento de revisitar os locais que amo, sair em liberdade condicional, para desfrutar um pouco do sabor de ser livre, feliz nesse sítio que quero que seja o meu sítio no final da pena de 8 longos anos. Tenho no entanto, perfeita noção que voltarei antes de todo este grande objectivo, aos "trabalhos forçados na prisão". Mas é o sonho da liberdade, a certeza do voltar um dia para ficar, que me segura a esperança e a alma no dia-a-dia penoso do desterro arrastado.

Um dia irei para ficar!

segunda-feira, setembro 03, 2007

Renascer

Todos nós lamentamos a perda de uma vida. Todos ficamos tristes com a morte, sobretudo quando de forma trágica, abrupta, sem aviso de um jovem, de alguém que tinha tanta vida para viver.
Mas também não é menos verdade que por vezes, infelizmente não tantas quanto desejáveis, a perda de uma vida faz renascer tantas outras. Confrontei-me de novo nestes dois meses com o drama da transplantação, com os problemas éticos, sociais e humanos, envolvidos em todo este processo que acima de tudo tenta dar vida a uns, respeitando dignamente a entrega de outros.
Mas mesmo assim, a oportunidade nem sempre é aproveitada, no momento em que há receptores que "gentilmente" cedem o órgão que há tanto tempo aguardavam, muitas vezes só por um capricho, e que mais tarde se vêm a arrepender. E tantos que esperam anos sem terem a sua sorte, com a infelicidade de outros, para poderem renascer com uma nova oportunidade de vida.

Vidas que renascem quando outra termina.

sábado, setembro 01, 2007

Presunção

Porque há médicos presunçosos, que se acham superiores aos outros, mesmo maiores que a vida? Não compreendo como é que qualquer pessoa e muito mais um médico, que se propôs a servir o doente, a servir a comunidade, não de uma postura de elevação, mas de humildade, pode por vezes sentir-se maior que tudo o resto, assumir uma posição de superioridade.
Esta característica nota-se sobretudo em "super" especialistas, que mais do que ver doentes, são autênticos consultores de Medicina. Delegam a parte laboral e de contacto humano a outros, segundo estes menos diferenciados, e com base na sua vasta experiência de seres superiores, decidem unicamente opinar sobre o rumo de uma decisão terapêutica ou diagnóstica, sem nunca de facto fazer qualquer tipo de intervenção directa no doente.
Enfim, ainda bem que não há tantos assim, destes semi-deuses de "meia-tigela", a assombrar a Medicina.

A boa prática é baseada na humildade.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Big Brother

Nos dias que correm, estamos cada vez mais próximos da visão de George Orwell, de um Big Brother que tudo vê, que tudo controla, de uma IngSoc que manipula toda a actividade de uma sociedade. Não estamos no ano de 1984, mas quase parece com o controlo feito por bufos e espiões de trazer por casa, que o senhor Presidente do Conselho de Ministro alimenta, inspira e incentiva.
E por ser contra tudo isto, contra toda esta atitude "pidesca" completamente retrógrada, desactualizada e nada democrática, não pude deixar de encontrar imensa piada a uma brincadeira inocente, mas tão cheia de verdade que o meu chefe fez nos computadores do Bloco Operatório. Em jeito de retracto que figure em toda a instituição pública, colocou a imagem do senhor engenheiro (ou não... ninguém sabe afinal se é ou não), com um capacete da construção civil como fundo de ecrã. Mas como esta imagem podia escandalizar alguém e também ali se encontrar um desses muitos bufos que pelo país estão espalhados, decidiu colocar uma outra, que num refinado esforço mental, se descobriria que se tratava de Sócrates, esse filósofo grego, a quem as Universidades atribuem o nome de programas de intercâmbio. Foi o riso total, só de pensar na forma engenhosa de fazer figurar tal nome personificado como retracto de tão ilustre pessoa.
Pensam que fico preocupado, com o que escrevi? Que virá um espião bloquear o meu blog. Não. Se bloquearam o acesso a blogs e afins nos computadores das instituições públicas, nomeadamente hospitais, fico esperançado que também o tenham feito a computadores de ministros, acessores e restante comitiva política, e desta maneira pela igualdade de direitos, passe despercebido. Que virá a seguir? Cortar todo e qualquer acesso com o Mundo?

"Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força."
in Nineteen Eighty-Four, George Orwell

quarta-feira, agosto 29, 2007

Brother in Arms

Bem-vindo à blogosfera...
Partilho da tua opinião. Apesar de ter sido mais natural que com um afastamento, nos tornássemos cada dia mais desconhecidos, mais estranhos, como já por outras ocasiões aconteceu, reparei, que cada vez mais, com o distanciamento físico do meu irmão, te tornaste no meu melhor amigo. Não serás um substituto do meu irmão que considero parte, prolongamento, da minha própria existência, mas um verdadeiro brother in arms, com quem posso partilhar momentos do meu dia, e daí que temos comunicado bastante, conversado bastante, das nossas aventuras e desamores, de tudo um pouco, parecendo cada dia como um prolongamento natural dos tempos de estudantes. E como o tempo não volta atrás, faremos do futuro um instrumento para reforçar a nossa amizade.

Abraço meu grande amigo, meu irmão!