sábado, fevereiro 23, 2008

20 anos de «para o ano é que é»

Não imaginava enquanto utente, e pouco assíduo, que o hospital de Viseu estivesse a rebentar pelas costuras no número de internamentos.
O número total de camas para internamento em Medicina e distribuídas por dois serviços é de cerca 120 camas. No entanto, em todo o hospital haverá sensivelmente mais entre 60 a 100 doentes sob a alçada da Medicina Interna. Como se explica este fenómeno?
Há já cerca de 20 anos que o hospital padece desta doença que incessantemente teimam em não querer curar. Desde essa altura, outros serviços disponibilizam parte das suas camas para a Medicina Interna. Ora isto acontece, não só porque há grande número de doentes idosos, com múltipla patologia, mas também porque estas especialidades pedem, empurram doentes para serem vistos por um médico, pela sua complexidade, dúvida no diagnóstico ou por uma sem razão. Chega-se ao ridículo de estar um colega de uma especialidade cirúrgica em plena enfermaria e chamar por um médico numa emergência.

E se tudo isto não fosse estranho, basta dizer que o novo hospital de Viseu, cheio de condições, ainda novo mesmo para os parâmetros actuais, tem apenas 10 anos. Onde estavam os actores de há 20 anos atrás, quando estes problemas se começaram a colocar? Onde estão esses mesmo actores, agora que a situação se perpetuou? Há muito que se fala em aumentar o hospital, de facto ele foi construído com essa mesma intenção, de crescer... Mas a realidade é outra. 10, 20 anos depois a situação mantém-se, correndo-se o risco, sempre presente mas continuamente contrariado por cada um dos profissionais, em não se perder a qualidade de prestação de serviços no meio desta confusão que é tornar todo o hospital de Viseu de uma só especialidade.
Infelizmente, as sucessivas administrações vêem a Medicina Interna como não lucrativa à luz dos parâmetros dos actuais hospitais-empresa, optando sim pela área cirúrgica do doente são, que vê rapidamente e em poucos dias o seu problema resolvido, com maior retorno financeiro por parte do accionista maioritário, o estado, que descura cada vez mais as verdadeiras necessidades de uma população envelhecida, com multipatologia e que necessita por isso de uma abordagem multidisciplinar, de uma abordagem do todo que é o indivíduo doente.

É urgente uma cura. Será este ano?

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