domingo, abril 29, 2007

Não falo

Estava para escrever mais uma reflexão sobre o estado da nação. Mas a minha mãe está sempre a avisar-me que um dia ainda me prendem, "como fizeram àquele juíz..."

E por isso decidi não falar. Não falo de um desgoverno transversal feito por homens de política em quem não confiamos, que ao "falar por actos", como deveria ser, "dizem" lixo (com "M"). Não falo num país que sempre viveu a pensar no passado, que enquanto presente era o pior que se podia ter e não reflecte no que se pode melhorar para o futuro. Não falo na crescente insegurança que diariamente aumenta, obrigando ao isolamente social de pessoas, à xenofobia. Não falo das assimetrias que cada vez são maiores e criam fossos na saúde, na justiça, na educação, na vida em geral.

Por tudo isto e muito mais, por estar a perder a esperança numa melhoria

NAO FALO!

quinta-feira, abril 19, 2007

Curta Glória

Fui ver um jogo do Sporting. Não sou dos adeptos mais fervorosos, se bem que não nego ficar chateado quando o meu clube falha em determinados momentos. Sou sportinguista desde que me lembro, e os primeiros tempos, 18 anos, em que as vitórias eram poucas, ajudaram a moldar um pouco a minha personalidade na esperança e na paciência, pois sabia que um ano inevitavelmente, o valor clubístico, o carisma, o espírito de ser sportinguista viria a revelar-se e seríamos mais uma vez campeões, e desta vez poder presenciar uma vitória. Foram os anos em que mais vivi e senti o futebol, cheguei mesmo a chorar com as derrotas e a rejubilar com as vitórias. E tudo isso passou, pelo menos amainou com um campeonato. Ou então amadureci, a um ponto de ver que o futebol, só traz curtos momentos de glória a quem assiste, e depressa passam, enquanto enriquece os protagonistas que quase sem excepção jogam sem alma.

Mas mesmo assim, vivendo num antagonismo inexplicável, não consigo deixar de vibrar com uma vitória, e de vez em quando abrir os cordões à bolsa e encher os bolsos rotos dos clubes de futebol e dos estádios estupidamente gigantes, para assistir a esses picos de serotonina que se transformam em momentos de curta glória.

E no final, o melhor foram as cheerleaders!

quarta-feira, abril 04, 2007

Fraude

O meu maior receio, é um dia ficar a descoberto o mau médico que sou. A incompetência que diariamente me ensombra, o mau juízo clínico, a má conduta, e com tudo isso defraudar todas essas expectativas que muitos depositaram em mim. De nada adianta dizer que sou como tantos outros, humano, sujeito ao erro, e que de facto, mais do que outros, erro, pela ignorância profunda que sinto, em que vivo.
Mas sei igualmente que é esse caminho pouco sólido, movediço, em que caminhamos no início das nossas carreiras, vidas até, que nos mantém alerta para as várias situações possíveis. E não é certamente segurador toda essa incerteza que sonda as nossas mentes sobre o que será correcto ou até mesmo prejudicial fazer, sem que tenhamos de estar sempre a inquirir um colega mais velho, muitas vezes, por algo tão banal.

Se fosse mais inteligente, salvaria mais vidas.

domingo, abril 01, 2007

Prioritários

É num momento de grande tristeza, que critico hoje todos aqueles apressados das estradas, que com tanta pressa colocam mais em perigo os outros que a si próprios. Tristeza sentida por mais uma morte precoce de um jovem de 20 anos em mais um acidente, que como tantos outros, de mota, mas em muito diferente pela vida única que parte deixando um sentimento de revolta, do eterno porquê. Se vivemos para dar não mais do que um punhado de anos ao mundo, porquê a razão de existência. Compreendo agora que no partir há muita lição que podemos tirar...

Mas não era sobre este lamentável assunto que queria falar hoje. É de um outro, também esse lamentável das dezenas de assassinos que diariamente circulam armados com armadura de zinco e aço que por serem "prioritários" em relação aos outros, cometem as maiores atrocidades nas vias públicas. Veja-se por exemplo, o caso particular, sobretudo muito frequente nas grandes cidades, das mudanças de direcção. Por vezes imensas filas de carros alinhados para sair à direita e vêem-se autênticos foguetes a passar ao lado, com mais pressa que os restantes, para ao último segundo cortar a frente de um outro carro, falhando-o por milímetros e ainda por cima ficar muito zangado pela lentidão dos restantes. E como este, tantos outros exemplos poderiam ser apontados, como um imenso role de crimes feitos contra a humanidade. São estes a origem de tantos acidentes, que apesar da culpa própria, devido à velocidade, culpam as vias, as autoridades, o mundo pela sua estupidez. E depois as mortes nas estradas continuam a crescer, mostrando uma incapacidade total de sensibilizar as pessoas, sobretudo os mais novos, para as grandes virtudes da paciência e responsabilidade, fundamental para quem tem a licença de porte dessa arma, que é o automóvel.

Devagar se vai ao longe.