quarta-feira, março 12, 2008

Trabalho, só trabalho

Que vida de formiga. Tudo em mim é trabalho. Estudo para trabalhar, como para trabalhar, durmo para trabalhar, trabalho para trabalhar. Até os momentos de lazer e diversão, envolvem trabalho...
Abandonado à minha sorte, sem nada definido neste momento, tenho-me dedicado a juntar uns trocos em sucessivas horas de trabalho extra. Não me posso, no entanto, queixar, porque adoro o que faço e no dia de são receber, o cheque tem compensado o esforço. Mas trocaria tudo isso, todo os ganhos e sucessos de uma vida profissional ainda curta, por uns poucos momentos de verdadeira alegria, na companhia de quem me fizeste sentir feliz, na companhia de quem eu pudesse fazer feliz. Um professor meu dizia em determinada altura do curso, já nós nos encontrávamos em recta final para uma entrada aguardada no mercado de trabalho: "Não se podem esquecer nunca do mais importante. O amor. Nada vale se não houver amor. A medicina é importante, os doentes são importantes, mas o amor é muito mais."
E apesar dos seus sábios ensinamentos, tem sido difícil cumprir este objectivo. Chego a pensar que tudo isto é o meu fado... Apanhado que fui pelo seu fatal desígnio, em amar o impossível, descobri que também na minha profissão, no meu estilo de vida, encontrei uma forma diferente de amar, de realização pessoal e é com esse sentimento que tento ser cada vez melhor, acreditando que em cada doente posso ajudar a melhorar a sua vida e com isso ser eu próprio mais feliz. Só nunca pensei que a frase que no primeiro ano nos obrigavam a interiorizar se pudesse tornar realidade em mim, de ver a Medicina como um sacerdócio com celibato.
Não tem sido falta de tempo nem de oportunidades. Só não é de mim ter um relacionamento mais sério com uma mulher sem acreditar que me posso entregar a ela por completo. Não seria justo, para ela, para mim, para ninguém e por isso, continuo na demanda pela felicidade plena, onde quer que ela esteja, com alguns momentos de superficialidade, em que me deixo levar pelas sensações, mais que pelos sentimentos.

"Os homens... perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."

Dalai Lama

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