sexta-feira, novembro 24, 2006

Por detrás da segurança

Quando acabamos de saír de um curso como o de Medicina, as pessoas que nos rodeiam vêem em nós "pau para toda a obra", a solução para todos os seus problemas de saúde. E o principal cuidado que tento ter, nestes momentos, é dar conselhos para problemas banais, como se fossem a melhor solução do mundo, ou indicar a consulta de um médico mais experiente se fôr quando é o caso. É por isso que, um pouco contra a minha vontade, tenho acompanhado nos últimos tempos, uma pessoa e os seus problemas, que para surpresa minha tem dado alguns frutos. Aqui se prova o elevado grau de eficácia do efeito placebo sobre o tratamento de doenças, sobretudo em doenças como estas, do foro psicológico. E tudo isto com o exame a aproximar-se, e a euforia optimista a esvanecer-se...

À primeira vista, não parecia uma pessoa que tivesse muitos problemas. Aparentemente segura de si, com sucesso na vida profissional e pessoal, mas que me confessou ter ocasionalmente, aquilo que enterpretei como ataques de pânico. Em certas ocasiões, tinha fobia de se encontrar sozinha no meio da multidão, ou em outras ocasiões fobia de estar sozinha... Tinha inclusivamente consultado alguns médicos, desde clínicos gerais até psiquiatras. E se não soubesse como isto funcionava ficaria surpreendido que o tratamento aplicado era somente um punhado de fármacos, que acabavam quase sempre por sortir um efeito mínimo.

Na minha ingenuidade, perante um problema que parecia condicionar muito a actividade desta pessoa, optei por uma espécie de psicoterapia, em que tentámos encontrar situações que garantissem "segurança" durante as crises e proporcionar momentos de introspecção, em que o sentir da respiração oferecesse um sentimento de controlo próprio. Acho que é no que baseia o Yôga.

Para ser sincero, eu próprio exercito um pouco desta última "técnica", para me concentrar. E se soubesse que me tornaria tão bom ouvinte teria optado pelo sacerdócio, o outro, o verdadeiro, não o da medicina! O mal é gostar tanto de mulheres, que interferiria de certo com a profissão...

As pessoas têm necessidade urgente de serem ouvidas.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Reagrupar

Aproveitei os últimos dias para uma espécie de vacances, de forma a reagrupar energias para a "última caminhada".
De momento não me arrependo minimamente dos dias de folga (folga ou férias, como queiram), fizeram-me mesmo bem, sinto-me mais fresco, como se iniciasse um novo ano lectivo. Mas espero poder dizer o mesmo no dia 19 de Dezembro por volta das 19 horas!

Antes das merecidas férias, sentia-me capaz de fazer já o mal fadado exame, não porque me sentia preparado, mas por uma simples vontade de acabar rapidamente com o "sofrimento", tal qual eutanásia intelectual, mas com um sentimento misto de esperança, para que o tempo parasse e me desse a oportunidade de impinar mais alguns pormenores de ocasião. Na quarta feira passada, fiquei mesmo esperançado que num envelope que era entregue com o certificado, viesse, no mínimo a resolução do exame de Dezembro, mas infelizmente era mais do mesmo... O livro de curso em formato digital! Mas recordando um comentário de uma colega, de que seriam as nossas conquistas diárias se não envolvessem algum sacrifício, algum factor "surpresa", tornando-as mais apetitosas, ou se calhar não!

Mas estou em espírito de renascimento, numa "boa onda" e nada neste momento me vai fazer desacreditar que é possível até fazer o pleno (100/100), pois este exame é como o futebol e aplicando a linguagem do futebolês, dando 110% de nós vamos conseguir obter os três pontos, porque já se sabe que quem joga para empatar acaba por perder... Mas prognósticos só final do jogo!

"Força nas canetas, deixem-se de tretas

Que isto é futebol total!"

quinta-feira, novembro 16, 2006

Maldito bicho

E eu a pensar que ia ter uma noite calma! Quem julgar que com o tempo mais fresco, desapereceram igualmente esses parasitas enviados pelo inferno, para nos atormentar o sono, desengane-se, porque eles andam por aí... Malditas Melgas (Anopheles, Aedes, ou raios que os partam)!

Não há, quer dizer, não pode haver nada mais irritante do que o som agudo, "gnhiiii", de uma melga a zombar junto dos nossos ouvidos enquanto tentamos descansar, e qualquer movimento que tentemos fazer pareça um esforço de titãs para levantar um braço que seja, ou muito menos acender a luz e tentar surpreender esse maldito bicho, obrigando-nos a "acordar" de um sonho fantástico. Pois a minha noite foi assim.
Várias foram as tentativas para apanhar em flagrante delito o arguido. Recorri incessantemente, umas milhares de vezes, à velha técnica de acender a luz e levantar-me num ápice para ver se o via, cheguei mesmo a um ponto de tentar ignorar o seu som, deixar-me picar pelo bicho, para ver se com a sua saciedade me abandonava, mas descobri que nunca fica satisfeito, mais não seja para continuar a atormentar com a sua presença. Parece que todo aquele som é propositado, que não vem das suas asas, mas sim que possui um assobio só para gozo.
Cheguei mesmo a um ponto, em que pensei que tudo se tratava de mais um surto psicótico, com alucinações auditivas, que me levariam ao desespero, e eis que sem aviso prévio, ao acender a luz naquela que dizia para mim próprio que seria a última vez, lá estava ela, gordinha que nem uma vaca acabadinha de sair do pasto, satisfeita por consumir parte de mim, e sem aviso, totalmente insconsciente, "táz", lá ficou mais uma melga esmagada contra a parede. Mas até na morte, as melga continuam a ser chatas... A quantidade de sangue que tinha sugado, ficou naquele momento a borrar a parede, obrigando-me a limpar no dia seguinte o local da sua jazida. RIP Foi uma batalha feroz, em que fiquei com algumas maleitas que recordarei, na semana que se aproxima, mas no final, prevaleceu a supremacia do mais forte (ou não).

E tudo isto numa noite em que tive, forçosamente de me levantar às 4h da manhã para levar o meu irmão ao aeroporto, que parte para mais uma das suas inesquecíveis viagens de negócios! Que rico sono!
Família dos Culicidae. O mais irritante dos bichos

quarta-feira, novembro 15, 2006

Meeting again

Não sei que cara hei-de levar... Talvez a de uma pessoa cansada de tudo, arrasada pelo estudo, com umas olheiras até aos joelhos e uma barba até aos pés, ou talvez a do eterno bem-disposto, que não se deixa afectar por nada, sempre alegre, mesmo nos momentos mais difíceis!

De qualquer forma, pouco importa, uma vez que não alimento esperanças em rever algumas (a maioria) das pessoas que comigo vão partilhar esse momento "festivo" de entrega de um documento à muito recebido. Mas como costumo dizer, por estas alturas, sempre serve para dar alimento a muito malandro que por ocasiões como esta vêm à faculdade saciar o seu instinto de comilões e sociopatas, usurpando o rendimento alheio, de bolsas que cada vez mais custam a pagar. Tudo isto só é suavizado com o esplendor da visão de uma sala dos actos grandes, majestosa, digna do nome, que muitos já viu chegar e partir, em busca daquele que foi o sonho original, o de vencer a doença e morte.

A todos os colegas desejo felicidade

sexta-feira, novembro 10, 2006

São Martinho

Amanhã é dia de São Martinho. Na primária contaram-me a lenda deste santo, enquanto saboreávamos umas quentes e boas castanhas!

Num dia tempestuoso ia São Martinho, valoroso soldado romano, montado no seu cavalo, quando viu um mendigo quase nu, tremendo de frio, que lhe estendia a mão suplicante e gelada.
S. Martinho não hesitou: parou o cavalo, poisou a sua mão carinhosamente na do pobre e, em seguida, como não tinha mais para dar, pegou na sua espada e cortou ao meio a sua capa de militar, dando metade ao mendigo.
E, apesar de mal agasalhado e de chover torrencialmente, preparava-se para continuar o seu caminho, cheio de felicidade.
Mas, subitamente, a tempestade desfez-se, o céu ficou límpido e um sol de Estio inundou a terra de luz e calor.
Diz-se que Deus, para que não se apagasse da memória dos homens o acto de bondade praticado pelo Santo, todos os anos, nessa mesma época, cessa por alguns dias o tempo frio e o céu e a terra sorriem com a benção dum sol quente e miraculoso, o Verão de São Martinho.

E não te esqueças que... No dia de São Martinho, vai à Adega e prova o vinho!

quarta-feira, novembro 08, 2006

Serrania

Vou aproveitar o inesperado Verão de São Martinho e fazer um retiro pela Serra. Abstrair-me do ruído da cidade, da confusão, libertar-me dos luxos urbanos. Pegar nas botas de montanha, na enxada e trabalhar um pouco a terra. Diz-se por cá em tom de sátira, que "mais vale uma mão inchada do que uma enxada na mão", mas por vezes sabe realmente bem libertar alguma da tensão que se acumula, na terra que agradece o mau trato. Trago comigo só o meu "pesado amigo" dos últimos tempos. Pode ser que mesmo aqui lhe possa dedicar algum do meu tempo.

Mas não é preciso trabalhar a terra para se estar em contacto profundo com a natureza... O que gosto mesmo é de ouvir e sentir a brisa que sussurra levemente no ouvido, o canto dos tenores alados, a paz que tudo isto me transmite. É vulgar dizer que não há palavras para descrever tanta harmonia, e por isso é que vos convido, a trocar um dia de civilização por um passeio pela serra, pelo campo, pela "província" (como se diz na capital) e sentir que voltarão diferentes, mais soltos, melhores com vós mesmos!
Serrano! Com muito gosto!

terça-feira, novembro 07, 2006

Hoje em dia

Ando mesmo cansado. Hoje em dia, já nada parece como dantes. Os dias mais curtos, servem de desculpa para um esgotamento cada vez mais precoce das reservas de energia diárias, que tanto procuro para combater a falta de motivação para continuar o estudo. Sinto que estou cada vez mais vazio de sentimentos que outrora abundavam e que expontaneamente se libertavam de mim e que agora são um acaso raro no dia-a-dia exaustivo. Receio perder o norte do objectivo primordial de toda esta caminhada cheia de obstáculos, ajudar.

Lembram-se da última vez que com o vosso sorriso fizeram alguém sentir-se mais feliz, mais vivo?! Pois são esses momentos que constroem um mundo melhor, são esses pequenos gestos de puro altruísmo que nos fazem acreditar que afinal há esperança, e me fazem reflectir sobre qual o verdadeiro sentido de tanta luta... Em Setembro vi-me a "julgar" uma atitude de entrega, que me criou alguma estranheza pelo seu timing. Mas estou agora totalmente convencido que não somos nós que determinamos o momento certo para este tipo de acções, elas simplesmente surgem e cabe a cada um de nós agarrá-las como oportunidades únicas que são.
É certamente o que fazem os milhares de voluntários que no país ou estrangeiro contribuem para um só mundo melhor, e que mesmo sabendo os riscos que correm, inclusivé colocar a sua própria vida como preço a pagar pela sua dedicação, continuam a sua batalha dária. Há cerca de um mês atrás, quando alguns "voluntários" foram mortos num país africano, um deles, mesmo antes do último suspiro de vida disse de forma corajosa: "Eu perdoo-os...". Deve ser por África parecer um enorme coração que tantos de nós, querendo voltar às origens da humanidade, se sente vocacionado a partir e ajudar.

Será que um dia teria a capacidade de manifestação de tanto amor? Para desgosto próprio, com a ilusão que querer vir a ser alguém que trabalhe para os outros, vejo-me diariamente a olhar para o umbigo, numa atitude paradoxal entre o desejo e concretização. Todos os dias acordo e digo, quero mudar...

"A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita."

(Mahatma Gandhi)

segunda-feira, novembro 06, 2006

O Emigrante

E lá voltou ele mais uma vez. As saudades já se avolumavam sem espaço para mais e pensei mesmo em comprar mais uma camioneta para as acomodar. O emigrante da família, que sem perder o seu pé em Portugal, se mantém lá pelos lados da Baviera, a fazer companhia ao urso Bruno. Vem cheio de novidades, a maior delas, a possibilidade de ir um par de semanas para a cidade com a ponte irmã de Lisboa, São Francisco, mais propriamente para Los Gatos, no local sito ao Vale do Silicone (talvez uma evocação à "actriz" Pamela).

Mas, a verdade é que vem muito emigrante... Cheio de dinheiro no bolso, e sempre disposto a abanar a nota para pagar tudo e mais alguma coisa. Só lhe falta mesmo a camisa com motivos florais, semi-aberta por cima com a pelugem e o ouro a querer saltar para a vista de quem olha! Diz que não pensa no pé-de-meia, por agora. Parece que nunca ouviu a história da formiga e da cigarra.

Mas ouve lá! Cá por Portugal somos pobrezinhos, ganhamos pouco, mas somos muito orgulhosos, oh magano, e assim é que nos sentimos felizes, na nossa "miséria".

Mas felizmente continuas o mesmo e por isso é que gostamos muito de ti!

quinta-feira, novembro 02, 2006

Os Putos

Que grande cultura que importámos... Se fosse uma forma de arte, uma boa comida, um estilo arquitectónico, mas não, de maneira completamente adulterada, adoptámos uma tradição de destruição de propriedade alheia.
As crianças, durante a noite de Halloween, na sua inocência, vão a casa das pessoas e não destinguem o conceito de doçura ou travessura e aplicam a conjunção coordenada copulativa "e" em vez da conjunção disjuntiva "ou", e lá praticam a sua travessura, mesmo após o pagamento da prometida doçura. Seus pequenos grandes cabeçudos! Já não vos bastava o Carnaval para a diversão em que ninguém leva a mal?
E tudo isto lá me valeu um carro cheio de farinha, uma porta com ovos, e os bolsos vazios dos doces da casa...
Esta seria uma boa oportunidade para ensinar às pequenas criaturas o sentido de compromisso, responsabilidade e acima de tudo respeito. Sem descurar, obviamente, a vertente lúdica deste dia... ou noite.

Agora que me sinto cada vez mais velho, é de se dizer... Esta juventude!