quinta-feira, setembro 28, 2006

Rotina

É muito difícil acordar todas as manhãs e ter uma rotina diária em tudo igual ao dia anterior.

Entre o acordar já com uma violenta dor cervical de uma postura viciosa, os 20 minutos para higiene diária e 5 minutos para pequeno almoço, a "vida", ou falta dela, começa religiosamente às 9 horas (pode ser tarde, mas tenho de fingir descansar). Segue-se o primeiro round de luta contra a falta de vontade e a favor da obrigação de estudar, que variavelmente se extende até cerca do meio dia e meio, altura em que o chefe de cozinha toca a rancho. Mesmo a mais amarga das refeições é um momento agradável para distração.

Às 14 horas, chega o segundo round. Este é o mais longo, mas também aquele em o a knock-out está mais perto de acontecer. Nada que não se consiga eliminar com uma ou outra corrida até ao frigorífico mais próximo, para muitas vezes ser aberto e reaberto sem que nada seja tirado do seu interior (que desperdício de energia...). É nestes momentos que não sei se é para manter a pouca sanidade mental que julgo ainda me restar ou se já é a loucura a dominar o meu dia-a-dia.

Mas eis que a contagem do combate é interrompida por mais um sagrado momento familiar, o jantar. Aproveito agora para olhar um pouco para o mundo e perceber que parece ser em vão a vontade de querer salvar o mundo, tamanha é a miséria e o estado de sítio constante de grande parte da crosta terrestre.

Mas como um condenado a perpétua que se ilude com a ilusão de um dia ser livre, eis que chega o terceiro e último round do combate diário. Neste, grande parte das vezes, sou já incapaz de erguer os punhos e dar alguns socos, limitando-me a ser um saco de boxe, espremido até à última gota de lucidez diária (que descobri ser limitada).

Mas de vez em quando, deixo o Sol entrar pelo friso da minha cela, faço a barba e aproveito a liberdade condicional do Domingo, dia do Senhor, dia de descanso, dia em que gosto de respirar, gritar e acreditar que tudo vai passar e novos e agradáveis dias irão chegar, mas não, sem antes, voltar à rotina de...

...Entre o acordar já com uma violenta dor cervical de uma postura viciosa, os 20 minutos para higiene diária e 5 minutos para pequeno almoço, a "vida", ou falta dela, começa religiosamente às 9 horas...

Cada dia mais do mesmo, Isolamento.

terça-feira, setembro 19, 2006

Moderação

Já faltava algum "debate político" no matrafão. Quem já tinha saudades, que levante a mão!
Hoje, fomos todos confrontados com a possibilidade do governo português estabelecer taxas para moderar o acesso à saúde não só em consultas e urgências, como já está estabelecido, mas igualmente em internamentos e cirurgias programadas (de ambulatório ou de internamento). É verdade que não é o retorno obtido com estas taxas que o SNS se torna sustentável, mas tem a saúde de ser auto-suficiente? Não será este o primeiro passo para cada doente (não gosto da palavra utente), suporte na totalidade os seus gastos, em internamento, medicação e exames complementares de diagnóstico?

A constituição refere o direito de acesso à saúde de todos os cidadãos, nacionais e estrangeiros, bem como que esta seja "tendencialmente gratuita". Ora nos últimos tempos, têm-se verificado precisamente o oposto. Com o encarecimento do acesso à saúde, impede que a população mais desfavorecida tenha iguais condições de acesso, sobretudo a crescente população imigrante e a saúde tem-se tornado cada vez mais "tendencialmente paga". Ou se muda a intenção, ou se muda a constituição, das duas uma. E já nem coloco a questão em termos de acessibilidade igualitária aos recursos, que visivelmente tem sofrido disparidades, em cada momento que se fecham hospitais não rentáveis ou maternidades de localização incómoda.

Decisões desta ordem não devem ser exclusivamente políticas ou economicistas, mas fundamentadas com as verdadeiras necessidades sociais e de saúde portuguesas.
Onde pára o “social” presente no nome dos maiores partidos políticos?

Outros tempos

Há cerca de 7 anos iniciava o meu percurso ensino superior. Tudo era quase perfeito. Estava na cidade onde sempre me imaginei a estudar, no tempo que considerava certo para iniciar esta caminhada. No entanto havia um senão, um dos grandes... Não estava no curso pretendido. O que veio a acontecer no ano seguinte, mas então numa cidade que não era a "pretendida".
Mas como foi bom esse primeiro ano de transição, em que ganhei autonomia, as experiências de vida que acumulei e sobretudo pelos momentos especiais que Coimbra proporciona. Com o tempo, apercebi-me que Coimbra é uma cidade a cair de velha, podre, com muitos estereótipos sociais enraizados, mas que sabe ter os seus pequenos momentos de unicidade, sobretudo quando o espiritual ultrapassa grandemente o aspecto físico, como o caso das serenatas académicas e a vivência estudantil, que quando em excesso se torna excessiva, passando a redundância.
E foi com a maior das naturalidades que no ano a seguir, após uma notícia "bombástica", soube que tinha entrado no curso que queria, só que em Lisboa, e acabei por aceitar o destino, com algum alívio, devo dizer. E ao longo do tempo, compreendi em diversas ocasiões o porquê de Lisboa...

Mas após 7 anos, compreendo, o drama de se seguir um caminho diferente, e de não se conseguir atingir um objectivo de vida, e de ter de se viver com ele, e alguns casos para toda a vida, como um manto sombrio que se abate sobre nós e nos persegue.
A maior lição que se tira da vida, é a vida em si.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Código de Barras

Nos últimos tempos tenho colocado um visto, tal qual lista de tarefas, em várias etapas da minha vida. Hoje foi só mais uma, insignificante por sinal!
A partir de hoje poderei ser identificado por um número tal e qual código de barras duma compra doméstica. E andei eu a "fugir" à guerra, para depois ir caír, de livre vontade, a uma associação em que mais do que o nosso nome vale o nosso número. Quer dizer, também não é tanto assim. Apesar de tudo, o nome conta, mas eu diria que toma particular interesse em questões judiciais, para atestar a veracidade de um documento (não vão as vinhetas ser extraviadas!).

Mas nem tudo são más notícias... Com apenas 120 euros por ano (por agora), tenho uma data de pessoas, a garantir o meu bem estar, a minha informação e sobretudo a "bajular" a minha nova condição. E só me apetece, gritar e dizer que sou, apenas e simplesmente, uma pessoa comum, como tantas outras, que nada muda com um certificado.

Não podemos mudar o que somos. Mas podemos mudar como somos.

sábado, setembro 09, 2006

Entrega

Não sei se devo louvar pela atitude altruísta ou apelidar de pura loucura. Não é que a poucos meses de se fazer um exame que definirá a carreira futura de muitos colegas, há uma colega que decidiu embarcar desde já numa missão humanitária!

De facto, está presente no espírito de muitos, incluíndo eu próprio, a vontade de partir, a determinada altura da vida, para um país em vias de desenvolvimento e ajudar, na medida do possível. Mas já, tão precocemente, em que não vejo capacidade de uma autonomia verdadeira. Na minha opinião, nesta fase, podemos mesmo complicar...

Mas, como disse anteriormente, não julgo a intenção das pessoas, considero-as mesmo como especiais, dignas de serem louvadas pela entrega que é necessária, pelo ajudar o outro, pondo mesmo a própria segurança e conforto em risco, mesmo a vida. Que mais poderei dizer...

Força Maggie. São pessoas como tu, que mudam o Mundo.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Cruzada de Sant'ana

Parece que se passaram cem anos desde que acabei o curso, até ao dia de hoje, em que finalmente me entregaram o certificado de licenciatura. E só passou um mês! Não é que tenha pressa para fazer alguma coisa, mas mesmo com o certificado é completamente impossível um licenciado em Medicina, após 6 anos de muito estudo (!) fazer seja o que for na área de licenciatura, se não estiver inscrito na "Ordem".

Mas nem imaginam as batalhas em que me envolvi, a par com vários colegas, para agilizar as lesmas e mouras da secretaria. O que me sabiam dizer sempre, era que a culpa não era delas, e que compreendiam que era muito aborrecido dizerem que estava tudo pronto num dia e alterarem consecutivamente para um dia seguinte... Coitado de quem não está presente. Carrega sempre o fardo da culpa. Mas enfim, no final, contabilizados os feridos e mortos da cruzada de Sant'ana, consegui não um mas dois certificados. Isto porque mais uma vez, as negociações de cessar fogo incluíram esta necessidade.

Complicado? Nem por isso. Está tudo ao alcance de umas frases muito bonitas, de uma assinatura ilegível e de um "selo branco" que com o tempo deixará de se notar. Mas para acabar esta bela cruzada, ainda falta ir a Coimbra para pertencer aos Corleoni cá do sítio.

"Eu, solenemente, juro consagrar minha vida a serviço da Humanidade..."
excerto da Declaração de Genebra

sábado, setembro 02, 2006

Sete embro

Há coisas levadas da breca! Mais um ano se passa, e continuamos a dar nomes às coisas, mesmo que não faça sentido nenhum. Para alguns talvez faça sentido, porque conhecem a origem de determinada designação, mas para uma pessoa como eu, pobre de espírito cultural, ainda surgem destas novidades! De entre tantos exemplos, os quais levaria anos a nomear, "descobri", após uma pequena investigação (agora mais fácil, porque na Internet encontra-se virtualmente todo o tipo de informação, poupando horas extenuantes de pesquisa em biblioteca), que o nome do mês de Setembro, tem origem na palavra sete.

Ora, perguntais vós porquê? Pois então, deixai-me que vos transmita o que aprendi...

O calendário que actualmente utilizamos, Gregoriano, só começou a ser utilizado, de forma gradual, a partir do ano de 1582. Até então, o calendário utilizado era o Juliano, que vinha da altura do Império Romano, em que o sétimo mês do ano, que começava em Março, era Setembro (septem, sete em latim). Mas, este calendário possuía um "erro". Não tinha em conta uma medida de certa forma constante do movimento de translacção da terra que se faz em 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. E como é de todos sabido actualmente, é por isso que o novo calendário tem os seus anos bissextos.

Ora como vos disse anteriormente, a introdução do novo calendário foi gradual, por parte de diversos países, o que deu origem a situações, no mínino embaraçosas, como por exemplo, aquela em que um erro infantil com datas, levou a um atraso de soldados Russos (que usavam ainda o calendário Juliano em 1805) na Batalha de Austerlitz, deitando por terra as aspirações de uma vitória sobre as as tropas de Napoleão, apesar de se encontrarem em esmagadora maioria. Hoje dir-se-ia, Daaa!
Quanto aos restantes meses que faltam até ao resto do ano, tembém eles devem o seu nome à sua posição no antigo calendário, Octo ber, Nove mber e Dece mber.

Em Setembro secam as fontes e a chuva leva as pontes.
Provérbio tradicional português