segunda-feira, abril 24, 2006

Laços

Porque amamos? Porque nos sujeitamos vezes e vezes sem conta à entrega incondicional ao amor, para que quase sempre nos despenhemos no sofrimento da perda. Costumo de dizer que a maior dor é perder alguém e saber que continua presente para nós, a abrir uma brecha maior no nosso pouco resistente coração.
Tenho reflectido sobre tudo isto, mas ainda não encontrei uma razão para a nossa procura de "sofrimento". Talvez seja porque acreditemos que no fundo há alguém que nos completa, que faz mais parte da nossa vida do que a nossa própria existência. Sentirmos que somos capazes não de dar mais do que um pouco de nós, mas entregarmo-nos completamente a essa pessoa. É nisto em que acredito... Apesar da desilusão das várias tentativas que fazemos, continuamos na luta, porque acreditamos. É a única certeza que temos e por isso ganhamos muito mais, sempre, a dar do que em receber, porque acreditamos.
A tentativa frustrada, não mais é do que a possibilidade de recomeçar, de aprender, de crescer, sobretudo de encarar o futuro com a sensação de que não nos esgotámos e continuamos prontos a transferir todo o nosso amor para a pessoa que amamos, não estando à espera de nenhum retorno, mas esperando unicamente que seja sincero e honesto. E se o "sofrimento" faz parte de todo este processo, então que seja, que sofra, que chore, que grite, que sublime toda a dor e a transforme numa força única de construção de novas relações, novos investimentos, novos sentimentos de novos laços.

Se para amar é preciso sofrer então que sofra.

domingo, abril 23, 2006

10.000.000 de Alfacinhas

As últimas notícias têm-me deixado muito desgostoso.
Querem fechar maternidades por todo o país, sobretudo onde mais elas são precisas, o interior tão já martirizado por políticas agrestes com o único objectivo de o desertificar. Qual melhor maneira de fixar população do que fazer nascer novos cidadãos no interior, criar desde cedo vínculos a um local.

Mas não... Só se ouvem falar em gastos, gastos e mais gastos. Só ouvimos falar em gastos. Mas que melhor maneira de gastar do que com o povo.
O estado vive para o estado ou para os portugueses? Parece que se quer substituir o que Abraham Lincoln brilhantemente um dia disse "...that government of the people, by the people, for the people..." para uma expressão tão à portuguesa "um governo dos políticos, pelos políticos e para os políticos". A minha opinião é que não consigo conceber um país sem população. E sempre era preferível cortar em bens não essenciais, como um TGV que quando chegar já vem atrasado e despropositado ou de um sem número de autoestradas, quando temos as estradas nacionais com urgência de obras, do que em bens que fazem a população viver, como a Saúde e o suporte Social.
Vivemos num país com acentuadas assimetrias, onde cada vez mais os partidários de uma facção se safam com a famosa "cunha" (=corrupção), e os que mais necessitam vivem na sombra da caridade que de vez em quando cai dos que detêm o poder.

Basta de arrogância, cinismo e de cegueira estúpida. Por favor, façam, uma vez que seja, o que é correcto e mantenham, apesar de algum custo adicional, as maternidades abertas, ou iremos ver cada vez mais, a fuga acentuada para os grandes centros urbanos de forma perene ou sazonal (durante a gravidez e parto) de população para ter o seu filho, nomeadamente, aquela que parece ser a única cidade portuguesa... Lisboa. Mas existe mais Portugal, por mais "serrano" que possa parecer.
Bragança, com o seu castelo (Portugal, UE)
O resto não é só paisagem

quinta-feira, abril 20, 2006

Porquê escolher a Morte?

Devo confessar que me tornei um pouco viciado em Blogs. Passei de um cepticismo quase violento relativamente à dependência da Internet, para um abrir de novas oportunidades para expor (se calhar só para mim próprio) alguns dos pensamentos que todas as noites antes de deitar vagueiam pela minha mente.

Foi por ter estado em contacto próximo com doentes terminais, numa breve passagem por uma Unidade de Cuidados Paliativos que reflecti sobre este assunto, Eutanásia - Porquê escolher a Morte?
Se na vida de cada um há momentos de pura espiritualidade, estes foram alguns deles. Enquanto cidadãos comuns, sujeitos às leis da vida (e dos seus infortunios), pensamos que o principal factor de pedido de eutanásia, advém da dor física, mas num trabalho de W. Breithart, verificou-se que esta só representa 5% dos pedidos. Os restantes 95% são por outras razões. Então porque deseja um doente terminal, ou com doença incurável morrer? Por se sentir abandonado pela vida, pela sorte, por Deus (ou outra entidade)?...

É aqui que entram os cuidados paliativos. Num centro com cuidados paliativos, normalmente não há pedidos de eutanásia. Esta situação deve-se sobretudo, porque o doente passa a ser o centro de uma abordagem holística, que proporciona ao doente a prestação de cuidados até ao fim, acompanhando-o passo a passo pela sua "caminhada de morte" (etapas preconizadas por Elisabeth Küller Ross), de forma a atingir o sentimento final de que cumpriu o seu objectivo de vida, para que na fase agónica, a possa encarar com a máxima serenidade. Não se trata de Distanásia (prolongar a vida a qualquer custo), mas sim de ajudar o doente a encontrar caminhos para que mesmo na última fase da sua vida possa dar algo de si, da sua experiência que fique para a eternidade, e é esse sentimento que devemos alimentar no doente terminal. É assim que eu concebo a vida: há muito mais a dar que a receber.
E para aqueles que pensam que cuidados paliativos (que é por natureza o antagonismo de eutanásia), é uma forma de aumentar o sofrimento de um moribundo, eu respondo, mesmo parecendo filosofia barata: o sofrimento é parte da vida, sem o qual não a concebemos (mesmo no amor sofremos). Não quero dizer com isto que devemos suportar, ou mesmo procurar o sofrimento, de forma resignada, mas transformá-lo numa oportunidade para aprender-mos com nós próprios e com a vida e mesmo crescer interiormente.

Mas sobre espiritualidade falarei numa outra conversa...

Obrigado Helena Aitken e Maria José Palma

"Não somos Imortais, mas somos Eternos"

Recursos fenomenais

Estou a fazer o follow-up de um Prematuro de 28 semanas, com idade cronológica de 40 dias e idade corrigida de 34semanas + 5 dias.
É incrível como, o estado da arte permite que uma criança ainda "por nascer", se encontre com uma vitalidade e desenvolvimento de fazer inveja a um lactente de termo! Sim, porque mesmo que o Prematuro por acaso de vida nascesse no dia de hoje, continuaria a ser um Prematuro.
É de saudar a capacidade técnico-científica a que a Medicina chegou, mas não poderemos esquecer o factor humano, a qualidade de vida que podemos oferecer a esta criança, uma vez que tão grande prematuridade traz as suas consequências e que por algumas vezes, acarreta um fardo que o acompanhará para toda a vida.

Mas, o que queria salientar de todo este monólogo, é a importância que atribuímos aos fetos, aos que estão por nascer. Não possuem personalidade jurídica? Não são indivíduos com direitos? Neste caso... Uma criança que matematicamente "estaria por nascer", mas que o fez bem cedo e se encontra em franco desenvolvimento estato-ponderal, faz recordar todo o "mal" que muitas vezes oferecemos às crianças in-utero, da mesma idade deste Prematuro.

Não é filosofia barata, nem defesa cega e infundada de ideais, mas factos científicos, que como sempre são sujeitos a refutação. Permitam-me só que vos diga:

Deixem o Sol nascer na vossa Vida!

quarta-feira, abril 19, 2006

O meu primeiro Post

Começa neste momento uma caminhada, partilhada entre Eu e o meu pensamento, que espero tornar em agradáveis momento de monólogo, à espera que se torne em diálogos multiculturais e num agradável debate de ideias, sobre qualquer tema, por mais estúpido que possa parecer.

Sebastião da Graça