sexta-feira, novembro 30, 2007

Ninguém decide

Queremos continuamente controlar tudo o que está ao nosso alcance, todas as condicionantes, e mesmo aquelas que estão acima das nossas capacidades. Tentamos ser autênticos deuses e deusas do nosso mundo, e chegamos à vontade de poder controlar sobre a vida e a morte.

Na experiência que tenho, pouca por sinal, fui já confrontado, não raras vezes, pela interpelação de doentes ou familiares destes, para que me decidisse sobre uma sentença de morte anunciada com aviso de recepção, para a qual nunca soube, nem poderia dar resposta. Sempre senti nestes momentos, a vontade de poder dizer que a Medicina chegara a um ponto em que a capacidade técnica permite que ninguém mais morra por doenças, por tristeza, por desilusão. Que a hora exacta da morte, hora sobre a qual ninguém tem a capacidade de decidir, seria uma consequência inevitável a longo e saudável prazo de uma vida de qualidade, de prazer, cheia de frutos.

E no outro extremo da vida, onde ninguém decide sobre a vida, o que me dá mais gozo ver é as expectativas goradas, das tentativas de atribuir um dia de nascimento a uma criança. Não pouco frequentemente, eles teimam em nascer um pouco mais cedo ou mais tarde, escapando às decisões externas.
E mais uma vez aconteceu... Mais um priminho que nasceu, dias antes da sua prevista e desde cedo antecipada chegada, e que mesmo assim deixou os pais radiantes de alegria, porque no meio de tanta falta de domínio de variáveis nasceu com um sorriso para o mundo, preenchido de vitalidade e força para começar a enfrentar as lutas diárias de um mundo em que o controlo quase nunca está sob nós.

Muitas Felicidades para a vida que agora iniciaste!

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