terça-feira, dezembro 04, 2007

Autonomia

Não me via preparado, de forma tão súbita, para enfrentar a solidão do acto médico. Legalmente, sou mesmo obrigado a estar continuamente acompanhado em tudo o que faço, enquanto interno do ano comum. Mas a verdade, é que me tem sido imposta a necessidade de permanecer sozinho num consultório, independente, e ver doentes dos quais a grande maioria, desconheço o contexto social e familiar, factor de extrema importância em consulta de Medicina Geral e Familiar. Numa política do desenrasca muito típica à portuguesa, na falta da pessoa que me devia tutorar nesta fase de formação, por se encontrar doente, foi sugerido em "conselho plenário", no qual eu não tive voz, que para não haver maior prejuízo, seria eu próprio a herdar a difícil tarefa de ver os doentes. Na minha opinião não foi a decisão mais acertada. Não ficam por ser vistos... Mas até que ponto lhes presto um serviço de qualidade, lhes ofereço as melhores condições de saúde? Mas com isso ninguém se interessa. O que conta são os números.
Tem sido uma experiência no mínimo diferente e desafiadora, e se não fossem as várias vezes em que admito humildemente a ignorância em certos aspectos da clínica geral, muitos seriam as vozes de descontentamento, mais do que as que se ouviriam pelo facto de uma pessoa não ser de todo consultada.

Um médico não deveria adoecer...

2 comentários:

Anónimo disse...

Exactamente! Não sei muito bem como cheguei aqui, mas sinto-me exactamente assim...de repentemente vejo-me quase enfermeira, a meses de acabar o curso, sózinha a fazer visitas domiciliárias e sentir-me desamparada. Questiono-me se será o melhor para os meus doentes...
(mas disse-me uma professora, que se tenho a consciência de me preocupar, significa que não sou de todo incompetente nisto). Desculpa a invasão...

Sebastião da Graça; Rodrigo Pais disse...

Obrigado pela sua visita! Não foi invasão nenhuma! Quando criei o blog coloquei umas expressões na barra do lado, onde incentivava os visitantes a comentar... Muito obrigado pelo seu comentário.

Sim. De facto só quem tem esta consciencialização, este dever de responsabilidade é que coloca continuamente em dúvidas as suas capacidades. E é com essas dúvidas, que surge a necessidade constante de melhorar e em que crescemos enquanto profissionais, técnicos e sobretudo enquanto Humanos!!

Será sem dúvida uma grande enfermeira! É que a competência técnica melhora-se com o tempo... Mas os valores não se aprendem! E só o colocar desta dúvida se vê que é um óptima pessoa!

Volte sempre que quiser, e se há alguém que tem que pedir desculpa, sou eu pela fraca qualidade do que aqui lê...