domingo, julho 09, 2006

Oferecem-se medalhas

Nos últimos anos, tem-se vindo a assitir a uma banalização das condecorações a atribuir a cidadãos, quer nacionais ou estrangeiros. Não quero dizer com isto que estou em total desacordo com a gratificação que é entregue a quem realmente tem valor, ou que segundo a lei orgânica das ordens honoríficas portuguesas, a distinguir "em vida ou a título póstumo, os cidadãos portugueses que se notabilizem por méritos pessoais, por feitos cívicos ou militares, ou por serviços prestados ao País".
No entanto, nos tempos que correm, parece que qualquer acto, por mais ridículo ou insignificante que seja tem direito automático a ser distinguido pelo Presidente da República. Já nem faz sentido, com os largos milhares de portugueses, que sobretudo no dia 10 de Junho de cada ano, recebe uma ordem, seja de mestre ou comendador, de Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, de Avis, de Cristo, de Sant'Iago da Espada, do Infante D. Henrique, da Liberdade, de Mérito, da Instrução Pública, do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial, ou outra qualquer, de palha ou cortiça, que se dê alguma importância a estas cerimónias e condecorações.

Das duas, uma. Ou somos um país em que mais de metade da população é composta de notáveis heróis e heroínas, e neste caso, porque não anda o país para a frente, ou está-se a "pagar" favores, com reconhecimento público, e através dos bolsos dos portugueses que servindo e lutando diariamente pelo país, recebem a sua cota parte com medidas pouco sociais de cortes orçamentais na saúde, educação, solidariedade social, despedimentos... Apertem o cinto dizem eles, ao mesmo tempo que oferecem "medalhas" a outros!
Para voltar a dar a dignidade, intrínseca, às ordens honoríficas portugueses, exige-se muita reflexão, moderação e contenção no momento da sua entrega, evitando reconhecer-se alguém que só se serviu a si próprio e aos seus interesses, e que foi espantosamente confundido com serviço ao país.

Um país cheio de heróis de pau oco

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