quarta-feira, julho 26, 2006

Beleza

Qual a definição de beleza? Como sabemos distinguir uma coisa bela de outra menos bela ou feia?
Felizmente, cada um de nós tem o seu próprio conceito de beleza, que só em situações pontuais coincide com a de outro. Aquilo a que eu chamo, "efeito de cardume", por não representar uma idealização por nós construída, mas "induzida" por um contexto social e cultural, onde cada um se integra. Senão, como seria se todos amássemos a mesma pessoa, se gostássemos da mesma comida, do mesmo divertimento... Um completo caos, para não dizer entediante.

Cada um de nós é único no momento de atribuir um significado conceptual a um objecto ou a uma pessoa, que vai muito para além da sua representação física. E o mais natural, é considerarmos estranho a "dedicação" que alguém atribui, de vez em quando, a determinada pessoa ou objecto, porque nos limitamos a interpretar, unicamente, o modelo físico representado e não o amor investido, a gratificação recebida, o que se vê com o coração. Como se costuma dizer "quem feio ama, bonito lhe parece".

Nunca tive a percepção de ser uma pessoa bonita. E quando me dizem que o sou, associo sempre a palavras de simpatia, de conforto para escamotear a minha verdadeira aparência. Feio como um miserável calhau de estrada, ao qual se dá um pontapé por prazer. É uma espécie de dismorfia corporal que sempre me acompanhou, e que toda a vida foi criando complexos sobre a minha maneira de ser e estar. Só não é completamente uma doença, porque acabei por me conformar com o meu corpo.
No entanto, vou tentando sublimar esta forma de dismorfia, invocando constantemente, aquilo que sempre considerei como belo, como uma dádiva divina para os olhos e alma, que me fazem acreditar que existe vida para além do meu pequeno caixote e que permanece para mim como a esperança de ser um reflexo projectivo de uma pequena centelha de beleza interior. Beleza para mim, são aves num céu imenso a voar, rumo à liberdade, sobre campos verdejantes repletos de vida, os sorrisos de felicidade de crianças a quem se dá carinho, a beleza de uma mulher que se ama apaixonadamente, uma vida cheia de pequenos momentos de felicidade, que não precisamos de recordar porque nos acompanham com a sua presença constante... Tudo isto, e muito mais, é belo para mim, e não eu, que me limito a alimentar da beleza externa e da beleza dos meus sonhos, porque de beleza fui desprovido.
Verdadeira beleza é aquela que temos escondida no nosso interior e que se reflecte nos nossos actos.

Sem comentários: