terça-feira, maio 02, 2006

Que loucura queremos ter?

Hoje reencontrei alguns colegas que já não via há bastante tempo... Mas para ser sincero, de alguns deles não sentia saudades nenhumas, somente alívio, por não os ter sempre a aborrecer, com a sua presença, atitude, arrogância, enfim pela sua existência. Se não fosse por outros que considero mais do que colegas mas também amigos, de quem sentia realmente saudades, tinha virado costas e fugido o mais rapidamente possível daquele local que me dá arrepios... Mais não fosse por se tratar de um serviço de internamento de Psiquiatria.

Ali tudo me parece louco, desde o mais insignificante objecto até ao próprio ambiente. Cheira-se loucura, o que me levou a ter uma pequena troca de argumentação com um dos Psiquiatras do serviço, quando me inquiriu sobre a minha expressa vontade de ser um Não-Psiquiatra. Disse-lhe de forma subliminar que a Psiquiatria me assuta terrivelmente, pelo desconhecido em que se pode tornar, pelo lidar com e "a partir" de personalidades pouco saudáveis, e sobretudo (apesar de o não ter dito então) pelo preconceito de se ser doente psiquiátrico e o de se ter de lidar com um.

Eu aceito que é horrível pensar assim, mas não devo ser o único a pensar desta forma. Parte dos próprios intervenientes mais directos do processo de tratamento e cura das doenças psiquiátricas. Veja-se por exemplo o edifício onde está o serviço: a caír de podre, com um jardim onde supostamente os doentes têm o seu espaço para estar em contacto com o mundo exterior, com o resto de natureza que lhes é possível tocar, mas que mais não tem do que duas árvores praticamente sem vida, fastigadas por estações ora demasiado quentes e secas ou frias e húmidas. Diria que são um retrato objectivável do ambiente espiritual que se sente. Parece que com a doença lhes é arrancada toda a dignidade que faz de nós animais únicos no teatro da vida. Quem disse que já não existem asilos, ou guetos?
Não quero parecer um velho do restelo que vezes sem conta augura a fatalidade que está por chegar, mas é necessário mudar mentalidades, a partir, obviamente da minha própria, e encarar o mundo desconhecido da psiquique humana e da doença desta, como parte de um sistema complexo, ao qual não podemos simplesmente virar costas e votar ao abandono, mas tentar integrá-lo na sociedade e no mundo para que seja mais fácil ao doente com distúrbios psíquicos sentir-se acompanhado a cada passo que faz para a sua cura e compreensão. Já basta ao doente a angústia ofegante da doença, o ter de lidar com o estigma, sobretudo quando a lucidez chega, e o que nós sabemos fazer é perpetuar essa angústia, fazendo errados juízos de valor ou ideias que acentuam o estigma. É daquelas alturas em que é melhor não tentar ajudar, não querer fazer mais do que aquilo que está ao nosso alcance, que por vezes mais não é do que o silêncio de um ouvido pronto a escutar. Os clássicos diziam o seguinte: Primum non nocere.

E não podemos esquecer que normalidade é um conceito muito vago e mutável, que só se define por razões que eu diria meramente estatísticas. O que para nós pode aparentar ser normal para o próximo pode parecer uma grande loucura, e o que é normal hoje, pode já não o ser amanhã! E que mundo mais louco do que aquele em que vivemos...

De médico e de louco, todos temos um pouco

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi! tu pareces ser um tipo as direitas (toda menos heavy)! baril! eu tb n gosto nada d musica barulhenta! temos de beber um copo um dia destes! olha, no jantar de viseu dia 18! a gente ve-se! ;)