Um dia, estava eu para abandonar a cidade de Coimbra, após um ano inesquecível da minha então monótona vida, firmei um contrato com um amigo. A distância não seria impedimento para um invocar regular dos "bons velhos tempos". Nos primeiros momentos, o contacto escrito era permanente, chegava até ser reconfortante ler e reler as cartas, sobre qualquer que fosse o assunto, mesmo banalidades da vida. Mantinha-me actualizado do muito que deixei em Coimbra, o ambiente, as pessoas (sobretudo as do sexo feminino!), tudo o que me fazia sentir ligado ao lugar e às vivências em conjunto. Seriam estas cartas que se tornariam as memórias permanentes de um disco rígido orgânico/híbrido. Mas até estas se foram desvanecendo com o inevitável afastamento, arrumadas que foram numa "gaveta da qual se perde a chave". De um momento para o outro o voluntário e alegre esforço dispendido para manter um contacto, passa a um "incómodo" e uma quase obrigação, e quando nos apercebemos, qualquer motivo serve de desculpa para evitar as recordações, e os amigos passam sorrateiramente a simples conhecidos e por vezes a completos desconhecidos. A confiança que leva tanto a conquistar é perdida, mesmo que não seja uma intenção declarada.
Mais tarde, com as perdas, reparamos que não fomos o mais correctos na forma de lidar com os amigos e que por falta de empenho próprio perdemos "para sempre" aqueles com quem gostariamos de conviver e criar recordações conjuntas. À que manter o esforço e exercitar o "músculo cerebral", para não perdemos parte de nós que entregamos quando fazemos um amigo. Perder um amigo é perder parte de nós próprios, ficamos mais pobres, menos completos.
"Fazer um amigo é um dom, conservar um amigo é uma virtude"
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