sábado, junho 24, 2006

Mãos de ver

Os últimos três anos da minha vida, trouxeram-me uma confirmação, daquilo que vinha a sentir desde o primeiro momento em que comecei a adquirir consciência de mim. Desde muito novo comecei a sentir a presença de alguém. Não, me refiro só a uma presença física, que todos nós sentimos por inerência às nossas capacidades sensoriais, mas também sentia a sua presença de espírito. Alguns de vós devem estar a dizer: "Lá vem aquele com as tretas espirituais...", mas deixem-me contar um episódio da minha vida.
Numa determinada altura da minha vida, era eu ainda um rapazinho, ao cumprimentar uma pessoa que conhecia, reparei na sua presença ausente, num vazio que a acompanhava. Mas o espanto assombrou-me por completo, no momento, em que no dia a seguir soube que essa pessoa tinha tido um acidente de automóvel e que tinha falecido. Na altura não associei nenhum dos sentimentos que tivera anteriormente ao sucedido, mas quando comecei a contactar diariamente com pessoas moribundas, muitas delas na fase final da sua vida, então percebi, que antes de um último suspiro de vida, estas tinham anteriormente perdido a sua presença espiritual (alma), como se esta antecipasse o que fora suceder.

Já na antiguidade, esta era uma capacidade de muitos dos médicos afirmavam ter, através da imposição das mãos no doente, sendo que os casos mais célebres, do próprio Hipócrates, na Grécia e de Avicena, na Pérsia.
No fundo, este "fenómeno" pode tratar-se de uma experiência que muitos dos profissionais de saúde vivenciam, talvez como um mecanismo de defesa, deixando de sentir as pessoas como tal e simplesmente como "cadáveres adiados que deambulam", para que no momento do adeus final não se sinta a perda, de alguém que se acompanhou, muitas das vezes, como um verdadeiro amigo.
Ou talvez seja só um traço meu, psicótico, em julgar ter poderes sobrenaturais!
De qualquer das formas, uma morte é sempre sentida por cada um de nós, como uma oportunidade de olhar de forma confiante para a vida na sua multiplicidade única, e encararmos cada dia como se fosse o último. E no final termos o orgulho de dizer: "Estou em paz comigo, porque sempre me entreguei completamente para ajudar os outros!"

"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."
Fernando Pessoa

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