sábado, junho 24, 2006

Obstinação

Esta palavra pode ter um de dois significados. Por um lado pode ser empregue, num sentido mais positivo, para descrever uma qualidade de alguém perseverante na busca de um objectivo, ou por outro lado, no seu sentido mais negativo, pode representar uma tentativa incessante de obter algo não alcançável, e que se aplicado ao acto médico, denomina-se de distanásia.

Na minha ainda breve passagem pelo ambiente hospitalar, tenho encontrado diferentes formas de encarar os últimos dias de um doente. Mas, em nenhum outro lugar encontrei uma vontade tão expressa em prolongar a vida de uma pessoa, como no hospital em que actualmente me encontro e com um doente que lá está internado. Doentes em que o prognóstico não vai além de poucas semanas, há neste hospital, um investimento enorme de recursos, de várias ordens, para recuperar o pouco que resta, prolongando, nem sempre da melhor maneira, a última centelha de uma vida. E, no final, resta o sentimento de que tudo o que era possível fazer, foi feito, mas sempre com a interrogação de "porquê?".
Talvez porque nos recusamos a desistir, a abandonar o doente, porque acreditamos que é possível sempre dar a volta a qualquer situação e porque no fundo acreditamos que é possível vencer a morte.
Mas qual o limite? E cabe a cada um de nós impor um limite?
A minha opinião é que, não me cabe a ninguém julgar ou sequer opinar sobre a atitude certa, qual o limite a estabelecer. Cada caso é diferente do outro e há factores que não são possíveis de controlar, para se impor regras.

Toda esta problemática, tem-me devolvido algum do conflito interior outras vezes vivenciado. A sensação de quando será a melhor altura de deixar partir o corpo, quando o espírito há muito que já não o habita. Mas esta é outra conversa.

Difícil é saber quando parar

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