domingo, março 18, 2007

Manhã no Museu

Já me tinha esquecido como é bom estar na urgência sábado de noite, aproveitando o sábado e o domingo, como se tivesse acordado cedinho para gozar em pleno o dia!

Mas numa manhã primaveril, em que Lisboa saiu à rua (pelo menos 36000 deles) e passou a ponte de comboio para a voltar a atravessar depois a pé, decidi "enfiar-me" num museu. Prolonguei a ausência de sono, aproveitei as borlas de domingo de manhã e fui conhecer o Museu Nacional de Arte Antiga.

Se bem que muito agradável, não posso dizer que foi uma surpresa completa, pois sabendo que vivemos séculos numa cultura cristã, facilmente se compreende que é fácil confundir arte antiga com arte sacra. Ora, porque apesar de alguns quadros, loiças e mobiliário de uso comum passado, o grande volume de trabalhos expostos é referente a essa herança dos tempos de demonstração de fé, em obras de grande beleza estética. Desde a exposição temporária, de arte sacra pré-renacentista do museu de Varsóvia, com os seus dourados eternos, passando pela exposição permanente, entre imagens de Santos com maior ou menor devoção actual, retratos de Reis e Rainhas, ourivesaria única de Gil Vicente, esse mesmo dramaturgo, ourives de profissão, que proporcionou ao Mosteiro dos Jerónimos a coroa com a sua custódia do primeiro ouro vindo da recém descoberta África, até ao corolário de todo o museu, o Painel de São Vicente, tudo parece um ambiente de sacristia. Mas entre tanta demonstração de "arte", isto porque alguma só é arte por ser antiga, pois no fundo na altura em que foi criada, seria igual a actuais desenhos sem qualidade artística, consegui emocionar-me com um ou outro objecto ou quadro, nomeadamente esse, que premeia o final do percurso no museu, o Painel de São Vicente. Já tinha perdido a esperança de o ver, ao fim de caminhar kilómetros dentro do museu, mesmo seguindo as placas da sua localização, mas ao o ver, não consegui deixar de associar tantas das feições da altura, com tantos rostos que hoje reencontramos nas ruas de Portugal, como se o quadro se tratasse de uma representação esquemática do ser português, desde as suas profissões, credos e mesmo feições físicas.

Ao fim de alguns momentos passados em frente a uma imagem esculpida como se de um perfeito ser humano se tratasse, abandonei por fim o museu e percorri as ruas de Lisboa, com outros olhos. Os olhos de uma cidade tão cheia de história, como de vida, única mesmo no meio do seu tão típico caos, que tanto a caracteriza.

Valeu a pena perder um pouco de Sol!

Sem comentários: