quinta-feira, janeiro 25, 2007

Quem protegemos?

Há muito que estava para "postar" algo sobre isto. O que aqui vou dizer de uma forma muito sucinta passou-se com um familiar meu, que após um acidente, à primeira vista inofensivo, acabou por se tornar numa quase tragédia. Questionando mesmo uma profissão que acabei por abraçar.

Já há cerca de 1 anos, um familiar meu, que por obrigações laborais tinha de se movimentar diariamente de automóvel, entre várias cidades de Portugal, teve uma colisão frontal com outro veículo. Numa primeira avaliação, tudo parecia normal, fora maior o susto do que propriamente o dano físico. No entanto, numa avaliação mais cuidada em ambiente hospitalar, foi diagnosticado um traumatismo esplénico, com necessidade de intervenção cirúrgica urgente, o que acabou por ser feito nesse preciso momento. De acordo com os dados já esclarecidos, aparentemente foram tomados todas decisões acertadas e a nível técnico, o procedimento foi exemplar.
O que se passou nos dias seguintes à intervenção cirúrgica, é que comprometeram uma recuperação rápida e sem sequelas. Após uma intervenção com sucesso, este meu familiar permaneceu internado no hospital, no pós-operatório, mas foi votado ao "abandono" por parte da equipa cirúrgica. Teve umas das possíveis complicações do pós-operatório, uma peritonite. Como se sabe, não se pode responsabilizar a equipa cirúrgica de uma complicação "previsível", no entanto pode-se questionar a ausência de resposta a uma apresentação clínica mais do que evidente de infecção abdominal generalizada, para a qual não foi dada a devida resposta, culminando na necessidade de ter que ser reintervencionado por uma outra equipa cirúrgica, numa altura em que a intervenção era life saving.

E é aqui que surge a questão desta história... O médico, quando realiza um acto médico, protege-se a si ou ao doente? Mesmo correndo o risco de no futuro ter de enfrentar uma situação semelhante, admito que há alturas em que temos de dar a mão à palmatória e admitir o erro grosseiro. De nada adianta ter uma postura de superioridade como forma de escapar à responsabilidade, para que numa situação semelhante saibamos como reagir correctamente e estar atento às queixas do doente, evitando colocar em risco a vida de um doente.
Primum non nocere

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