segunda-feira, maio 09, 2022

Tóxico

 "Senhor, afasta de mim este cálice"

Porque somos assim? Porque gostamos de sofrer por amor, por paixão? Porque nos permitimos aguardar por um sinal que seja, de alguém que na sua "superioridade" não se digna a corresponder aos nossos desejos?

Porque o sentimento de angústia nos mantém vigilantes, tal como o medo primitivo nos mantinha em alerta para nos preparar para as dificuldades diárias.

Talvez, porque os poetas descrevem o amor como uma insatisfação constante, um lume que arde e nos queima, um contentamento descontente.

A ausência do medo, relaxa-nos, deixa-nos acomodados, torna-nos seguros de nós, auto-confiantes, mas não nos dá vida. Não nos dá a emoção da angústia desesperante que nos faz sentir que ainda não morremos, que estamos na vida para lutar.

Já todos passámos pelo mesmo. Desde os nossos namoricos de infância ou adolescência, na necessidade constante de correspondência, quando por tantas vezes, do outro lado estava um ser que parecia ora tão atencioso, carinhoso, ora insensível e cruel. Mas só a chama do poder sequer olhar de novo para nós, nos deixava pendurados a esta existência amargosa de sofrimento "por amor".

Não há resposta para este tipo de sofrimento. Unicamente sofrer até cansar, para depois já não sofrer mais. Afasta de mim este cálice? Sim, mas deixa-me sofrer um pouco mais, porque gosto.

Amantium irae amoris integratio est

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